por HUGO COELHO
Comboios voltaram a passar no túnel do canal da Mancha, mas por todo o continente há voos cancelados e milhares de passageiros retidos
Três dias depois de terem parado a meio do túnel do Canal da Mancha - para terror de dois mil passageiros a bordo -, os comboios da Eurostar voltaram ontem a circular, mas com enormes limitações. De Paris a Moscovo, a Europa continua a marcar temperaturas negativas e sob fortes tempestades de neve que lançam o caos nos transportes e ameaçam as férias de Natal de milhões de europeus.
A intempérie já matou perto de cem pessoas. A polícia da Polónia, país onde a temperatura desceu além dos 20 graus negativos, encontrou ontem dez cadáveres congelados. Desde sábado, 52 polacos morreram de frio, na sua maioria vagabundos que viviam na rua.
Apesar do balanço trágico, o regresso à circulação dos comboios da Eurostar dominou as notícias ontem. Vinte e seis mil das 75 mil pessoas retidas desde sábado tiveram lugar para viajar entre Londres, Paris e Bruxelas.
"Foram dias terríveis", disse à AFP, David James, britânico de 47 anos, pai de duas crianças, à entrada para o comboio, na estação de Saint-Pancras, Londres, onde as filas de passageiros estendiam-se por centenas de metros.
Mauricette Nayale, enfermeira de 48 anos, não teve lugar no comboio para Bruxelas onde a família a espera. "Pediram-me para voltar amanhã. É verdadeiramente inaceitável", desabafou.
A Eurostar explicou que a paralisação dos comboios se deveu a um curto circuito, dentro do túnel, que foi provocado pela condensação do gelo acumulado na zona dos motores. A empresa admitiu que só depois do Natal a situação voltará ao normal.
A neve que parecia começar a dar tréguas segunda-feira voltou ontem a cobrir de branco o Reino Unido e a forçar a suspensão de centenas de voos e grandes atrasos nos aeroportos em redor de Londres e em Manchester. No condado de Hampshire, no Sul, cerca de dois mil automobilistas ficaram bloqueados na estrada e os comboios da região pararam.
O mau tempo também não poupou o Norte de Itália. Os aeroportos de Milão estavam praticamente paralisados. Em Génova e Verona, as pistas gelaram e os aviões nem ligaram os motores. As escolas também fecharam portas. A confederação italiana de agricultores estima que a vaga de frio tenha causado prejuízos de "dezenas de milhões de euros".
Na Alemanha, o principal aeroporto de Berlim, Schoenefeld, suspendeu a circulação durante várias horas por causa do gelo. O aeroporto de Frankfurt, o terceiro maior da Europa, reabriu após um noite de completa paralisação, mas a meio do dia mais de 140 voos já tinham sido cancelados. Na Baviera, onde as temperaturas baixaram até aos 33 graus negativos na noite de sábado para domingo, centenas de acidentes de carro obrigaram ao encerramento de vários troços de auto-estrada.
O gelo na estrada provocou algumas dezenas de mortos nos últimos dias. Mas a maior preocupação das autoridades são os sem-abrigo. Ontem vinte e cinco associações francesas denunciaram o "despejo desumano" de mais de 2200 pessoas - alguns ciganos - de bairros pobres desde Outubro. Em Londres, o príncipe William de Inglaterra passou uma noite da semana passada a distribuir cobertores por sem-abrigo.
FONTE:
DN GLOBO
http://dn.sapo.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=1454117&seccao=Europa
Nenhum comentário:
Postar um comentário