por HELENA TECEDEIRO - Hoje
Três milhões de peregrinos encheram as ruas de Kerbala, entoando o nome do imã Hussein e lançando punhais contra a pele. Celebrações terminaram sem atentados graças ao esforço das forças de segurança iraquianas.
Ao som dos tambores, três milhões de iraquianos celebraram ontem o último dia da Ashura, a principal cerimónia para os muçulmanos xiitas. Enquanto desfilava pelas ruas da cidade santa de Kerbala, a multidão autoflagelava-se em sinal de arrependimento e entoava cânticos em nome de Hussein. É a morte do imã, neto do profeta Maomé, numa batalha em 680 que os peregrinos assinalaram, rodeados de medidas de segurança.
"Apesar das ameaças de vários grupos extremistas contra os fiéis, o plano de segurança funcionou na perfeição", garantiu á AFP Chirouan al-Waili, o secretário de Estado para a Segurança Nacional do Iraque. Pouco antes, Osmane al-Ghanemi, chefe das operações militares em Kerbala, explicou aos jornalistas que várias pessoas pertencentes a dois grupos ligados à Al-Qaeda foram detidas num raio de 40 quilómetros de Kerbala.
"Os terroristas queriam atingir os peregrinos e colocar várias bombas na principal estrada que leva a Kerbala. As nossas forças conseguiram desactivar nove e fizeram um excelente trabalho na protecção dos fiéis", garantiu al-Ghanemi numa conferência de imprensa. As cerimónias da Ashura terminaram por volta do meio dia sem que se tenham registado incidentes.
Este ano, 105 mil estrangeiros deslocaram-se à cidade santa para recordar Hussein, num dia de luto e reflexão. Naturais do Paquistão, dos Estados do Golfo e do Irão não hesitaram assim enfrentar a ameaça de atentados para satisfazer o seu fervor religioso.
Neto de Maomé, o imã Hussein foi morto pelas tropas do califa omíada Yazid durante uma batalha no deserto de Kerbala. Segundo a tradição, os peregrinos xiitas autoflagelam-se em sinal de penitência e arrependimento por não terem sido capazes de ajudar o seu imã.
"É uma honra homenagear Hussein. Já fiz isto cinco vezes. E acho que Deus me ouviu", explicou Abdul à AFP. Este xiita de 20 anos foi um dos milhões que ontem lançaram as lâminas dos punhais contra a sua pele nua. "Oh, Hussein! Oh, Hussein!", gritavam enquanto percorriam as ruas. E quando algum cai, exausto, logo os outros o mandam parar, não sem continuarem, eles próprios, a fazer jorrar das feridas o sangue, que vai escorrendo pelos seus rostos e pelas suas costas e deixa marcas vermelhas nas ruas. Nas mãos, são muitos os que carregam bandeiras pretas, vermelhas e verdes, bem como cartazes com a imagem de Hussein e do seu meio-irmão Abbas, ambos sepultados em Kerbala.
Para evitar incidentes durante os dez dias de celebrações da Ashura, a polícia e o exército iraquianos destacaram 25 mil elementos para a cidade xiita. O objectivo das autoridades era o de evitar a repetição dos ataques de extremistas sunitas, que no passado mancharam de sangue (mais do que aquele que já escorre pelos corpos dos peregrinos) estas celebrações.
À volta da cidade, foram criados quatro cordões de segurança e no seu interior os agentes concentraram atenções junto das mesquitas de Hussein e Abbas.
Para evitar atentados suicidas, como os que foram cometidos no passado por mulheres, "destacámos para as três entradas principais da cidade 600 elementos femininos dos serviços de segurança. Estas estavam encarregues de revistar todas as pessoas de sexo feminino que considerassem suspeitas", explicou al-Ghanemi. O chefe das operações militares em Kerbala adiantou ainda que enviara cães-polícias para o terreno e veículos munidos de detectores de explosivos.
Em Março de 2004, durante a Ashura atentados simultâneos fizeram 170 mortos e mais de 465 feridos em Bagdad e Kerbala.
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