Terceiro dia de violência na capital. Confrontos já fizeram 54 mortos e 1600 feridos desde 10 de Abril.
O centro de Banguecoque foi ontem palco de confrontos entre manifestantes "camisas vermelhas" e forças militares tailandesas que procuram acabar com os protestos antigovernamentais. A situação ficou caótica na quinta-feira e ontem, no terceiro dia de violência, morreram mais oito pessoas, elevando para 54 mortos e 1600 feridos o balanço deste conflito (24 mortos desde quinta). Os camisas-vermelhas estão nas ruas desde Março e, após uma fase em que as suas fileiras chegaram a ter 150 mil pessoas, concentraram-se no bairro de Ratchaprasong, a zona comercial e financeira da capital, onde o grupo tem dois a três mil activistas, que recorrem a tácticas de guerrilha.
Os militares colocaram numa rua avisos dizendo "zona de tiro com bala real" e jornalistas no local viram as tropas a dispararem contra manifestantes que tinham a bandeira tailandesa na mão. Os momentos de calma são interrompidos por tiroteios e os soldados têm feito apenas pequenos avanços no perímetro ocupado pelos manifestantes, que lançam cocktails molotov e recorrem a armas improvisadas em bambu.
Um dos líderes do protesto, Jatuporn Prompan, citado pela AFP, dizia que a "situação é quase de guerra civil". E acrescentava: "Não sei como é que isto vai acabar." O porta-voz do Governo, Panitan Wattanayagorn, explicava aos jornalistas que os soldados disparam para se defender dos ataques dos manifestantes. Refira-se que o bairro está isolado e que as autoridades continuam a apelar à desmobilização dos activistas.
Vários países fecharam as suas embaixadas. Os EUA retiraram pessoal diplomático e o departamento de Estado desaconselhou os cidadãos americanos a viajar para a Tailândia. Ontem, Pequim declarou estar "muito preocupada" com a situação. A etnia chinesa ronda 14% da população deste país de 64 milhões de habitantes.
Entretanto, a cobertura jornalística tornou-se mais perigosa, devido às balas perdidas. Vários jornalistas já foram feridos. Na sexta-feira, três repórteres foram atingidos a tiro, incluindo um estrangeiro; ontem, houve nova vítima entre os jornalistas (um ferido grave). A 10 de Abril, em incidentes que mataram 25 pessoas, morrera um repórter japonês.
Para se perceber o perigo no local, basta referir que o general Khattiya Sawasdipol, um dos líderes mais radicais do movimento das camisas vermelhas, foi atingido a tiro na cabeça por um atirador furtivo, quinta-feira, quando dava uma entrevista a um jornalista do International Herald Tribune, Thomas Fuller, que saiu ileso.
Esta onda de violência é a pior na Tailândia desde 1992. O país tem sido palco de alta instabilidade, mas a crise pode agravar-se. O Governo de Abhisit Vejjajiva retirou a proposta de eleições antecipadas e parece disposto a sufocar o protesto. O conflito remonta a 2006, quando um golpe militar derrubou o primeiro-ministro Thaksin Shinawatra, actualmente no Dubai. Thaksin foi acusado de corrupção e afastado da política. Em 2007, após um período de lei marcial, houve eleições que deram a vitória (com 36%) a um partido formado por aliados do ex- -primeiro-ministro. No ano seguinte, o movimento camisas- -amarelas paralisou o país e forçou a queda do Executivo, cujos membros foram afastados por decisão do Tribunal Constitucional. O desaparecimento do maior partido permitiu a ascensão ao poder de Abhisit, que organizou uma aliança em torno da sua formação, o Partido Democrático, que em 2007 ficara em segundo lugar, com 30%.
domingo, 16 de maio de 2010
Tailândia
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