Alessandra Corrêa
Enviada especial da BBC Brasil a Phoenix
Há 14 anos a comerciante Ofélia Medina, de 60 anos, passa seus sábados e domingos atrás de um dos estandes do El Gran Mercado, um mercado de pulgas no sul de Phoenix que costuma ser um dos mais movimentados da capital do Arizona.
Nas últimas semanas, porém, Ofélia viu os fregueses desapareceram.
"Desde que a lei passou, calculo que entrem no máximo umas 200 pessoas por fim de semana. Antes, eram milhares", disse a comerciante à BBC Brasil, referindo-se à nova lei de imigração do Arizona.
A lei foi assinada pela governadora Jan Brewer em 23 de abril e torna crime estadual a presença de imigrantes ilegais, além de dar à polícia o poder de parar, revistar e exigir documentos de qualquer pessoa sobre a qual paire "suspeita razoável".
A legislação só deve entrar em vigor em 29 de julho, mas desde seu anúncio tem provocado temor entre os hispânicos que vivem no Arizona, muitos dos quais estão ilegalmente nos Estados Unidos.
"As pessoas não vêm porque a maioria dos nossos clientes são indocumentados e têm medo de sair à rua. Com esta lei que passou, que permite à polícia pará-los e investigá-los, eles têm medo", diz Ofélia.
"Quase todos estão ilegais. Não têm documentos, estão violando a lei", afirma. "Alguns não têm trabalho, e os que têm trabalho não vêm para não ser pegos."
Mudança
Ofélia Medina chegou aos EUA há 40 anos
Mexicana de Zacatecas, Ofélia chegou aos Estados Unidos há 40 anos, com o marido, atravessando a fronteira ilegalmente, como muitos de seus clientes.
Alguns anos depois, conseguiu regularizar sua permanência no país, e hoje é cidadã americana.
Sua situação, porém, não é a regra entre os moradores e frequentadores da zona sul de Phoenix.
"Estamos com muito medo", diz a mexicana Mayra Zambrano, 22 anos. "Não temos documentos." Mayra deixou sua terra natal, Zacatecas, aos seis anos de idade. Ao lado da mãe, do pai e dos dois irmãos atravessou o deserto para chegar aos Estados Unidos.
"Viemos em busca de melhores condições", diz. Desde que chegou ao país, seu pai trabalhou em vários empregos informais, como jardineiro e carpinteiro. A mãe, em uma lavanderia.
O anúncio da nova lei, porém, já alterou a rotina da família. Assim como vários outros imigrantes ilegais, Mayra diz que sua família tem sido mais cautelosa, evitando sair de casa desnecessariamente, com medo de ser alvo da polícia.
Mayra conta que, quando a lei entrar em vigor, sua família mudará de Estado
"Assim que a lei entrar em vigor, eu e minha família vamos deixar o Arizona", afirma. O destino mais provável, diz ela, será o Estado vizinho do Novo México.
"É muito triste. Eu queria ter os documentos. Queria poder ter um bom emprego, cursar uma faculdade", diz.
Estandes vazios
Segundo comerciantes e frequentadores mais antigos, os corredores do El Gran Mercado são um retrato dos temores da comunidade latina de Phoenix.
Neste domingo, somente uma pequena área estava ocupada por estandes.
Poucas pessoas, a maioria famílias com crianças, circulavam pelos corredores. No estacionamento, sobravam vagas. Juan Rivas afirma que nunca viu o mercado tão vazio
O comerciante Juan Rivas, dono de um estande de botas e roupas de couro, diz nunca ter visto o mercado tão vazio como nas últimas semanas.
"A crise já havia provocado uma queda no movimento. Com a nova lei, a situação piorou", diz Rivas.
Ofélia, que ajuda no sustento da família com a venda de doces e brinquedos no mercado aos fins de semana, diz que sua renda caiu 80% desde o anúncio da lei.
"Depois de pagar o aluguel (do estande), não sobra nada."
Nenhum comentário:
Postar um comentário