terça-feira, 3 de novembro de 2009

De abrigo em abrigo em Mianmar
Data de publicação : 3 Novembro 2009 - 12:53pm
Por RNW Radio Netherlands Worldwide
A violência e os abusos no leste de Mianmar vêm aumentando. Só no último ano, cerca de 75 mil pessoas tiveram que abandonar suas casas por causa de conflitos e opressão. É o que informa um relatório do Thailand Burma Border Consortium, uma aliança de doze organizações de apoio a refugiados de Mianmar.
De uma correspondente da RNW*
A organização investigou, durante cinco anos, a situação na região de conflito. Segundo o relatório, que foi divulgado na semana passada, atualmente, há mais de meio milhão de deslocados no leste de Mianmar (antiga Birmânia). São principalmente minorias étnicas como os Karen, Karenni e Shan, que há décadas estão em guerra com o regime.
A maioria dos refugiados vai para abrigos temporários em regiões próximas à fronteira com a Tailândia que estão sob domínio destas minorias étnicas. Dezenas de milhares de outros são obrigados a se mudar para locais controlados pela junta militar que governa o país. E outras dezenas de milhares vagueiam pela selva, de abrigo em abrigo.
Violações dos direitos humanos
“Vivemos com medo e estamos sempre prontos para fugir. Quando ouvimos que há tropas perto de nosso abrigo, corremos para o próximo local”, disse um homem da etnia Karen a um dos pesquisadores. Os entrevistados contam sobre torturas, estupros, extorsão e trabalho forçado para o exército.
Organizações de defesa dos direitos humanos dizem que todos as partes no conflito são culpadas de violações aos direitos humanos. Mas a deterioração da segurança da população nos últimos anos foi principalmente causada, segundo o relatório, pela crescente militarização do leste de Mianmar. Pelo menos 235 batalhões do exército estão estacionados na região – o dobro do que havia há 15 anos.
As minorias perderam, neste período, uma grande parte de suas terras nativas, e dessa forma cada vez mais civis foram parar em uma região onde a guerra se arrasta na forma de ‘conflito de baixa intensidade’. Desde a independência do país, em 1948, as minorias no leste de Mianmar estão em guerra com o regime central, por mais autonomia e direitos iguais dentro da federação.
Gasoduto
Violência contra civis é parte da estratégia de ‘contra-insurgência’ do exército. Estas atividades militares não são apenas destinadas a fazer com que rebeldes de minorias étnicas se rendam à força. A pacificação da região também é importante porque há ali um gasoduto que fornece gás para a Tailândia – uma veia financeira para o regime. Também há planos para a construção de represas para geração de energia hidroelétrica.
A grave crise humanitária nas selvas de Mianmar acontece longe dos olhos do mundo. O governo de Rangun considera esta região terreno proibido. A partir da fronteira com a Tailândia, é necessário fazer uma viagem ilegal de vários dias para chegar aos abrigos temporários dos deslocados.
Idosos
Uma ou outra vez, chegam histórias ao mundo exterior sobre idosos que já perderam a conta das vezes que tiveram que fugir em sua vida, e sobre crianças com nomes como Running Shell, porque nasceram durante a ofensiva.
A imprensa internacional direciona suas reportagens sobre o país principalmente à disputa de poder entre a líder democrática de oposição Aung San Suu Kyi e os generais da junta. Especialistas alertam frequentemente que as notícias não retratam a complexidade da situação e que uma solução política para a posição das minorias étnicas é crucial para a paz e a democracia em Mianmar.
Ainda não é certo se as eleições planejadas para o ano que vem poderão ser um primeiro passo nesta direção ou se darão ao exército ainda mais poder político. “Mas para encontrar uma solução é urgentemente necessário abordar as questões étnicas”, segundo Jack Dunford, diretor do Thailand Burma Border Consortium.
* A jornalista não quer se identificar para evitar problemas com o visto de permanência em Mianmar* Foto via Flickr: by jackol
FONTE:
RDW - RADIO NEDERLAND WERELDOMROEP - HOLANDA

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