segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Casamento Homossexual

Religiões
Só o budismo aprova casamento homossexual
por RITA CARVALHO
A união civil entre pessoas do mesmo sexo é contestada pelos líderes das principais confissões religiosas em Portugal. Aos católicos juntam-se muçulmanos, judeus, hindus e evangélicos que vêem na união entre homossexuais uma alteração do conceito de família. A excepção são os seguidores do budismo.
Católicos, muçulmanos, judeus, evangélicos e hindus encaram com desagrado a intenção política de alterar os contornos jurídicos do casamento, alargando-o aos homossexuais. A excepção são os budistas que defendem essa opção se ela "tornar alguém mais feliz" .
A posição do presidente da União Budista Nacional, Paulo Borges, contrasta com a dos diferentes líderes religiosos ouvidos pelo DN. " De acordo com os princípios do budismo de pretender libertar a mente de tudo o que faz sofrer, nessa perspectiva, se o casamento entre pessoas do mesmo sexo contribuir para tornar alguém mais feliz então somos a favor", afirma. O presidente desta confissão em Portugal diz que embora exista uma posição dos budistas tibetanos, que refere que a relação sexual entre pessoas do mesmo sexo não é aconselhada para uma evolução espiritual, a questão não é moral: "é apenas quanto à progressão espiritual, ao nível energético".
Para a maioria das confissões, o casamento é um compromisso duradouro entre duas pessoas de sexo diferente, destinado a constituir família e um projecto de vida. Na base desta posição, garantem, não está uma atitude homofóbica. Apenas a preocupação com o impacto social negativo que, acreditam, decorrerá da alteração do conceito de família.
"Esta alteração afectará a visão que a sociedade tem do casamento. É óbvio que os movimentos políticos influenciam a cultura e a percepção da sociedade", afirmou ao DN o rabino Elizer Shi di Marino. Por isso, defende o líder religioso da comunidade judaica, "somos contra". Os judeus consideram que não têm que impor a sua opinião nem a sua fé, nem vão tomar posição. Mas dada a sensibilidade do tema, diz o rabino, seria desejável um debate alargado, que pode passar pela consulta popular
Os textos bíblicos em que se baseia o judaísmo vêem a homossexualidade como acto proibido, esclarece o rabino. "As pessoas que praticam essa tendência, acabam por se auto-excluir da comunidade", diz, referindo os aspectos religiosos. "Mas num mundo livre, cada um tem liberdade de praticar a sua sexualidade. Mas não deve afectar a célula familiar nem modificar brutalmente os conceitos de família."
O Islão defende a família, esclarece o xeque Munir, líder da comunidade islâmica. "Mas como a sociedade já não é o que era, as pessoas dão prioridade a outros valores. E é óbvio que o Islão proíbe os casamentos entre pessoas do mesmo sexo", acrescenta. Na discussão em curso, não se envolvem.
Já Fernando Soares Loja, da Aliança Evangélica, assume uma posição firme a favor do debate público, integrando até a lista de mandatários da Plataforma Cidadania e Casamento, que há dias pôs a circular uma petição para o referendo. "À luz da doutrina cristã, esta proposta é contrária à vontade do criador", explica, acrescentando que, quem é homossexual, deve "abster-se de praticar a homossexualidade".
Na admissão às comunidades evangélicas, este é um aspecto escrutinado, reconhece, equiparando o "impulso homossexual" a outros que, na sua opinião, devem se disciplinados, como "o de ter várias mulheres".
As propostas políticas em cima da mesa não fazem qualquer sentido para os evangélicos. "Não podemos concordar com nenhum regime jurídico que homologue a homossexualidade. Se alteramos este regime, já agora, porque não respeitamos os polígamos, se há pessoas que têm mais do que uma mulher", questiona. Para Fernando Soares Loja, que também é advogado, "os defensores desta proposta estão a mentir quando dizem que não está em causa a adopção e apenas o casamento. É a mesma face da moeda".
Dentro dos cristãos, os católicos já condenaram as intenções legislativas e a sua posição é bem conhecida. Ao DN, o porta voz da Conferência Episcopal sublinhou que legalizar as uniões homossexuais, dando-lhes o estatuto de casamento, constitui "uma alteração grave das bases antropológicas da família e, com ela, da própria sociedade." Apesar de simpatizarem com a ideia de uma consulta popular, os bispos não se vão mobilizar.
A posição crítica dos cristãos contrasta com a dos hindus, que recusam condenar ou julgar qualquer comportamento. "O hinduísmo não tem regras obrigatórias. E, normalmente, não nos pronunciamos sobre o que não está previsto nas escrituras hindus", afirmou Ashok Hansraj, relações públicas da comunidade hindu. Tratando-se de uma questão pessoal, não há orientações religiosas. Por isso, diz, "se aparecesse um casal homossexual não incentivávamos nem desaconselhávamos", diz Ashok, sublinhando que a sua opinião não vincula a comunidade.
Para os hindus, a família convencional inclui um casal com homem e mulher e tem o objectivo de procriar. "Gostaríamos que este tipo de situações, fora do matrimónio convencional, não existissem. E em nome da liberdade individual não se pode condenar o colectivo. Mas não vamos apoiar, nem sugerir. Muito menos, condenar." Sobre o referendo, Ashok Hanraj tem uma opinião muito pessoal. Apesar de considerar necessário o debate, diz que as pessoas vão evoluindo e o referendo marca "apenas uma posição num determinado momento" .
FONTE:
DN PORTUGAL
http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1427901

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