terça-feira, 3 de agosto de 2010

Monções

Inundações devastam Paquistão
por LUÍS NAVES Hoje

Catástrofe agrava-se no Nordeste do país: dois milhões de afectados, 1200 mortos, várias aldeias destruídas.
As inundações no Norte do Paquistão, as piores em várias décadas nesta região, já fizeram mais de 1200 mortos e as autoridades temem agora as epidemias, com mais de dois milhões de pessoas afectadas e muitas comunidades completamente isoladas. O balanço de vítimas é provisório, havendo já organizações que referem um mínimo de 1500 mortos. Além disso, as chuvas fortes ainda não terminaram e podem até prolongar-se por várias semanas.
Milhares de vítimas tentam sobreviver em telhados, à espera que chegue o socorro de barco ou helicóptero. Muitas estradas e pontes foram varridas do mapa. A gastrenterite atinge 100 mil pessoas, sobretudo crianças, e teme-se um surto de cólera, por enquanto ainda não confirmado. A ONU está a organizar uma intervenção humanitária em larga escala e começou a ser recolhida ajuda financeira internacional para o Paquistão.
A catástrofe atingiu em especial a província de Khyber-Pakhtoon- khwa e as zonas tribais, junto à fronteira com o Afeganistão, mas também Caxemira, mais a norte, e Baluchistão, a sul. A cidade de Peshawar, com três milhões de habitantes, chegou a estar isolada do resto do país. Ali convergem muitos dos desalojados.
Parte de Caxemira foi também atingida em 2005 por um devastador sismo que matou milhares de pessoas. Este é um território que sofreu na prática um estado de guerra civil nos últimos três anos.
Duas semanas de forte intensidade das chuvas de monção bastaram para colocar a zona em situação de emergência. As monções no subcontinente indiano estão a ser normais este ano, mas a chuva concentrou-se demasiado em Julho. Um membro da Cruz Vermelha, citado pela AFP, dizia que "aldeias inteiras foram arrastadas pelas torrentes de águas".
Nas zonas do Paquistão mais afectadas pelas inundações não há tendas e os desalojados têm de improvisar abrigos com o pouco material que recuperaram. Milhares de pessoas perderam as casas e a ameaça da cólera (não há água potável) levou as autoridades e enviarem para a região equipas médicas especializadas em controlo de epidemias.
O Governo paquistanês mostra grandes dificuldades para responder ao problema, apesar de terem sido enviados 30 mil soldados e dezenas de helicópteros, além de equipas de socorro com barcos e hospitais de campanha.
Mas a escala do desastre é tal que as ajudas parecem inexistentes. Há mesmo informação de que organizações ligadas aos talibãs paquistaneses estão a chegar aos sinistrados de forma mais evidente do que o Governo, o que ameaçará ainda mais a posição de Islamabad, já abalada por dois anos de conflito e pela fragilidade do poder civil do Presidente Asif Zardari.
As zonas de fronteira com o Afeganistão, onde os talibãs controlam parte do território, são as mais afectada pelo conflito entre os rebeldes fundamentalistas e o governo, sobretudo o vale de Swat, onde houve violentos combates há menos de um ano. Ali, as inundações já mataram quase 500 pessoas. Por isso, o atraso na ajuda só tem intensificado os sentimentos anti-Governo e anti-americanos, que já eram muito fortes.

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