O PRIMEIRO SANTO GAY

Artigo apresenta Anselmo como o primeiro santo gay

Artigo no diário A Imprensa Livre, desta capital, apresenta Santo Anselmo, cujo dia em memória dele foi lembrado na terça-feira, 20, como “um grande santo da fé católica e um dos primeiros santos homossexuais conhecidos.”
ALC San José, quinta-feira, 22 de abril de 2010

O artigo, assinado pelo colunista Hermes Navarro do Vale, assinala a probabilidade de Santo Anselmo, prior de Bec, o mosteiro mais influente do período, e depois arcebispo de Canterbury, foi “a figura intelectual mais respeitada de sua época. Foi ele quem, na sociedade medieval, expôs à luz pública a tradição da amizade passional entre monges e também impediu a promulgação da primeira legislação antigay da Inglaterra”.
O concílio de Londres, de 1102, adotou medidas para garantir que o público fosse informado da impropriedade dos atos homossexuais, que eram um pecado. Santo Anselmo proibiu a publicação do decreto. “Este pecado foi, até agora, tão público que, dificilmente, se achará alguém que se sinta turvado por ele, e muitos caíram porque não tinham consciência de sua gravidade”, afirmou.
Ainda que o monge beneditino tenha se consagrado ao ideal monástico do celibato, ele “teve relações extraordinariamente emotivas, antes de mais nada com Lanfranco e, depois, com uma série de discípulos”, escreveu do Vale, citando epístolas escritas por Anselmo que tinham um marcado acento intimista e confidencial.
Parte de produção epistolar “parece erótica”, avaliou o autor do artigo. Em carta a dom Gilberto, Anselmo escreveu: “Irmão, amigo, amante (…) doces são para mim, meu dulcíssimo amigo, os dons de tua doçura, mas que não podem nem sequer começar a consolar meu desolado coração da necessidade de teu amor.” E prosseguiu: “Sem a experiência de tua ausência, não sabia eu quão doce era estar contigo e quão amargo estar sem ti.”
O monge teria nascido em Aosta do Piamonte em 1033. Ingressou no mosteiro de Bec aos 26 anos e chegou a ocupar o cargo de prior. Foi qualificado como um “santo pensador original e independente”, de grande cultura e, sem dúvidas, o maior teólogo de seu tempo, a ponto de ter sido considerado o “pai da escolástica.”
Historiadores contam que depois de 15 anos como prior, Anselmo foi eleito abade de Bec, em 1078, posição que o obrigava a viajar com freqüência pela Inglaterra. O rei Guillerme, conhecido como o Vermelho, recusava nomear Anselmo como arcebispo de Canterbury, mas uma doença o fez refletir concedeu a nomeação.
A conversão do monarca, porém, não foi total, e ele chegou a oprimir a Igreja, sempre que lhe era permitido e quando o clero não fazia a vontade dele. Guilherme chegou a desterrar o próprio Anselmo.
Com a morte de Guillerme, Anselmo passou a ter as mesmas dificuldades com o sucessor do monarca, Henrique I, que reclamava o direito de investidura de leigos sobre as abadias e catedrais. A oposição entre o monarca e o arcebispo se agravaram, chegando ao extremo de que se dizia que Santo Anselmo excomungaria o rei, que, de imediato, reconciliou-se com o padre.
Com sua saúde debilitada, o prelado faleceu em 1109, entre os cuidados dos monges de Canterbury.
Canonizado em 1494 e proclamado doutor da Igreja em 1720, sua vida é conhecida, ao menos em parte, graças ao trabalho de Eadmero, um discípulo direto dele, ainda que a biografia que escreveu esteja cheia de exageros e interpretações próprias da época, que tinham a finalidade de exaltar um candidato à santidade.

FONTE:
ALC - AGÊNCIA LATINO-AMERICANA E CARIBENHA DE COMUNICAÇÃO
Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC) Informações e análises sobre a realidade sócio-eclesial, de desenvolvimento e direitos humanos na América Latina e outras regiões do mundo Edição em português: - São Leopoldo - RS - Brasil