NEUROCIÊNCIA
Doentes vegetativos conseguem aprender
por BRUNO ABREU
Um grupo de investigadores do Reino Unido e Argentina descobriu que os pacientes em coma ou com o mínimo de consciência conseguem aprender e têm uma consciência parcial. Também conseguem formar memórias. O estudo, que se baseou na experiência de Pavlov, pode ser um passo para a melhor recuperação destes doentes
As pessoas em estado vegetativo conseguem fazer associações e formar memórias, apesar da falta de capacidade para se expressarem, demonstrando assim que têm uma consciência parcial. Um estudo ontem publicado pode ser o ponto de partida para que se compreendam melhor os estados de consciência destes doentes e também uma esperança para uma recuperação mais rápida.
O estudo - publicado na edição de ontem da revista Nature Neuroscience - resulta da colaboração entre um grupo de cientistas das universidades de Buenos Aires e do Instituto de Neurologia Cognitiva, na Argentina, e também da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.
Para chegarem a esta conclusão os cientistas aplicaram a 22 doentes um teste bastante simples, semelhante ao usando na célebre experiência do cão de Pavlov (ver caixa): tocaram uma nota musical enquanto sopravam para o olho do paciente.
O que os investigadores descobriram é que ao fim de algum tempo de treino, os doentes começaram a piscar o olho quando a mesma nota era tocada. Isto ainda antes de o ar ser soprado.
Para os investigadores, esta aprendizagem requer uma consciência da relação entre os estímulos - ou seja, que o doente percebe que a nota musical precede o sopro de ar para o olho. Um tipo de aprendizagem que nunca foi detectado nos sujeitos que faziam parte do grupo de controlo, composto por voluntários sob efeito de anestesia.
Os investigadores acreditam que o facto de os doentes testados conseguirem aprender estas associações demonstra que também conseguem formar memórias. Desta forma, dizem, podem beneficiar de reabilitação, mesmo sem saírem do estado vegetativo.
O principal autor do estudo, Tristan Bekinschtein, da Wolfson Brain Imaging Unit da Universidade de Cambridge, acredita que o teste pode ser um avanço para o estudo dos doentes em estado vegetativo ou com pouca consciência. "Este estudo vai, felizmente, tornar-se uma ferramenta útil e simples para testar estados de consciência sem ser necessário recorrer a imagens [do cérebro] ou a instruções. Além disso, esta investigação sugere que o paciente consegue aprender, o que significa que estão aptos para a recuperação até certo nível", explicou o especialista.
Em 2006, o Cambridge Impared Consciousness Group (Grupo de Consciência Danificada) da Wolfson Brain Imaging Unit mostrou, usando imagens funcionais, que os doentes em estados vegetativos, podiam de facto estar conscientes, isto apesar de serem incapazes de o demonstrar através de movimentos voluntários consistentes.
FONTE:
DN CIÊNCIA
http://dn.sapo.pt/inicio/ciencia/interior.aspx?content_id=1368334&seccao=Sa%FAde
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