França acusada de ter ficheiros secretos sobre ciganos
Hoje
Bernard Kouchner está de saída do Governo por discordar da "inflexão securitária" advogada por Nicolas Sarkozy
Representantes de quatro associações ciganas apresentaram ontem queixa contra o Governo francês por este manter "ficheiros de natureza étnica, ilegal e secretos" sobre os roma e outros grupos nómadas, medida que consideram discriminatória.
O Ministério do Interior desmentiu "ter conhecimento de tal documento", mas anunciou a realização de um inquérito com base nos elementos apresentados na queixa. Um porta-voz do ministério admitiu a existência, até Dezembro de 2007, de um "ficheiro genealógico" das famílias ciganas, que foi destruído naquela data, "conforme os imperativos legais".
A queixa apresentada pela Associação Nacional dos Nómadas Católicos, Voz dos Roma, União Francesa das Associações Ciganas e Federação Nacional das Associações Solidárias e de Acção com os Ciganos e Nómadas indica a existência de um "meio de efectuar a compilação das detenções de roma" fora de França. Estas informações são tratadas na Direcção Central de Combate à Delinquência Itinerante, órgão que estabelece a genealogia e os percursos das "minorias étnicas não sedentarizadas", como as designa.
Paris iniciou em Julho a expulsão dos roma em situação ilegal em França e o desmantelamento dos seus campos no país. Estas medidas provocaram uma vaga de críticas na UE, tendo a Comissão desencadeado um processo de infracção contra a França.
Mas as críticas e o mal-estar espalharam-se ao próprio Governo de Nicolas Sarkozy, com o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Bernard Kouchner, a apresentar um pedido de demissão, que deve tornar-se efectivo com a remodelação prevista para Novembro.
Na carta, revelada pelo semanário Nouvel Observateur, o ministro denuncia a "inflexão securitária" e as "humilhações" de que teria sido alvo por elementos do círculo próximo de Sarkozy. Um dos seus colegas de Governo, citado pela AFP, ironizava recentemente: "Kouchner está muito feliz por ser ministro dos Negócios Estrangeiros e muito triste por não ser o chefe da diplomacia".
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