O início e o fim de uma acção aprendida depende de células especiais, afectadas em doentes com Parkinson.
Quando se aprende a tocar piano, a escrever palavras num teclado, ou a conduzir um automóvel - ou qualquer outra tarefa que tenha de ser aprendida - surgem nos circuitos neuronais envolvidos nessa aprendizagem uns quantos neurónios que se especializam numa coisa muito concreta: dar a ordem de arranque e a de paragem para a execução correcta da sequência do movimento.
A descoberta destes neurónios sinaleiros, feita pelos investigadores Rui Costa, do Programa Champalimaud de Neurociências no Instituto Gulbenkian de Ciência, e Xin Jin, dos National Institutes of Health, nos Estados Unidos, é publicada hoje na Nature e poderá ser importante para uma nova abordagem de doenças neurodegenerativas, como a de Parkinson ou Huntington.
Parece minúsculo, e de facto isto passa-se ao nível dos micro-circuitos cerebrais, mas esta espécie de semáforo do cérebro, é algo de essencial. Nos doentes de Parkinson e de Huntington este processo está afectado e as pessoas têm dificuldade em iniciar um determinado movimento, apesar de quererem fazê-lo. E parar é outro problema.
"Para as acções inatas, como respirar, já se sabia que há circuitos numa zona da base do cérebro que controlam a sequência das acções", explicou ao DN Rui Costa. "Então perguntámo--nos: e nas acções aprendidas? Será que existe um circuito idêntico ao que controla o início e o fim das acções inatas?"
A pergunta não vinha do nada. Era inspirada, justamente, nas dificuldades sentidas a este nível pelos doentes de Parkinson e Huntington, que perdem neurónios nas áreas cerebrais dos gânglios basais, um grupo de núcleos no cérebro associados a funções motoras e de aprendizagem.
"Pensámos que naquelas células teria de haver qualquer coisa de especial relacionado com o início e o fim da acção", conta Rui Costa.
Os dois investigadores desenharam então uma metodologia para formular a pergunta sob a forma de experiências e o trabalho levou três anos a concretizar. "Introduzimos eléctrodos muito pequenos nos cérebros de ratinhos e ensinámo-los a pressionar oito vezes seguidas uma tecla", explica Rui Costa. Foi assim que conseguiram ver os neurónios do "semáforo" em acção. E verificaram também que, à medida que a tarefa era aprendida, estes neurónios sinaleiros iam aumentando. Depois, em ratinhos com uma alteração funcional idêntica à dos doentes de Parkinson, observaram que eles já não conseguiam fazer a sequência correcta dos oito toques.
Para Rui Costa e Xin Jin o passo seguinte é perceber o que é diferente nas células de start e de stop. "É o que estamos a fazer agora." O objectivo é abrir caminho à possibilidade de estimulação eléctrica que permita no futuro aos doentes com este problema reconquistar o controlo deste semáforo cerebral.
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