Português descodifica genoma do cancro da mama
por BRUNO ABREU
Samuel Aparício e a sua equipa da BC Cancer Agency descodificaram o genoma do cancro da mama, o que lhes valeu aparecer na capa da 'Nature'. Tumores evoluem de maneiras diferentes, ao contrário do que se pensava. Tratamento será diferenciado dependendo das fases
"Foi como passar o dia todo a subir uma montanha e, no fim, chegar ao cume e admirar aquela paisagem toda." É assim que Samuel Aparício descreve ao DN o momento em que percebeu que ele e a sua equipa tinham descodificado o genoma do cancro da mama. Uma descoberta que pode abrir portas para um tratamento diferenciado de cada fase do cancro, explica o investigador, que promete continuar a trabalhar nesta investigação: "Foi um primeiro passo. mas há muito para fazer."
Nascido em Lisboa, mas a viver desde os cinco anos em Inglaterra - os pais emigraram de Vila Franca de Xira para Leeds -, a sua formação médica foi feita entre as afamadas universidades de Cambridge e Oxford.
A morte da mãe com cancro da mama, quando Samuel fazia o estágio em Medicina interna e patológica, foi um dos impulsos para seguir a investigação oncológica.
Agora deu um passo gigante na luta contra a doença. Fez a capa da conceituada revista científica Nature e é motivo de orgulho no Canadá, ao aparecer também na capa do jornal Globe and Mail. "Nunca me passou pela cabeça, no início da carreira, que viesse a fazer uma descoberta tão importante."
Graças à tecnologia que permite sequenciar o ADN, Samuel e a equipa de cientistas compararam as mutações encontradas numa fase mais avançada da doença, com as detectadas quando esta ainda estava em fase inicial.
Descobriu que estas não evoluem todas da mesma forma: "As mutações dos tumores não são homogéneas, como se pensava", mas vão variando conforme a fase da doença, como provou o trabalho da sua equipa da BC Cancer Agency, uma fundação científica com sede em Vancôver, onde trabalha há quatro anos.
A investigação começou há nove anos, quando ainda estava no Reino Unido. "Estudámos uma doente e conseguimos ver que o cancro primário que lhe tinha sido diagnosticado tinha sofrido mutações", diz Samuel Aparício.
Isto é, de início, existiam 11 mutações no tumor na fase primária da doença, tendo sido encontradas outras 32 numa fase mais avançada. Apenas cinco dos erros foram encontrados em todas as células, nas duas fases. Seis deles apresentavam-se com frequências bastante menores (entre um e 13 por cento).
Dezanove mutações foram detectadas numa fase mais avançada, apesar de não estarem presentes no início. Duas delas não se conseguiram estudar por razões técnicas.
Agora o trabalho do português passa por sequenciar tumores em ensaios clínicos para ter mais casos para trabalhar no estudo dos genomas.
A investigação da sua equipa vai testar novos fármacos adaptados às (agora diferentes) fases da doença e tentar perceber se nestas mutações dos tumores existe algum padrão. "É importante ter o máximo de informação sobre os genomas do cancro", conclui o cientista.
FONTE:
DN CIÊNCIA
http://dn.sapo.pt/inicio/ciencia/interior.aspx?content_id=1384944&seccao=Sa%FAde
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