Um ano alheada da vida com a tristeza como companhia
por Helena Neves, da agência Lusa-Hoje
A tristeza que sentia era "o pior", acompanhada do sentimento de solidão. É na primeira pessoa que Isabel faz o relato da depressão que sofreu e que a deixou alheada do mundo durante quase um ano.
Isabel Vasconcelos, 40 anos, teve uma Perturbação Depressiva Major (estado depressivo em que os sintomas são mais graves) que é reconhecida em inúmeros estudos epidemiológicos como uma das situações clínicas que mais frequentemente gera incapacidade.
"Tudo começou com a morte de uma pessoa de família, a avó, que tinha um papel importantíssimo na minha vida, seguido do abandono de outra pessoa que até aí me tinha apoiado", começa por contar à Lusa, na véspera do Dia Europeu da Depressão.
Começou por perder peso e depois deixou de dormir. O desinteresse era tanto que Isabel deixou de se preocupar com os problemas de saúde de familiares.
"Sentia uma tristeza atroz e um sentimento de solidão ímpar, apesar de rodeada de família e alguns amigos. Chorava quase permanentemente e não conseguia evitá-lo", recorda.
Primeiro recorreu a uma médica de família, mas passados alguns meses foi "enviada" para um psiquiatra.
"Este médico diagnosticou-me uma depressão major", conta, lembrando que na altura já tinha deixado de trabalhar por não "conseguir sequer agregar ideias".
Não se lembra de dores físicas, só psicológicas, embora os medicamentos a tivessem deixado "fisicamente KO".
"Todos os dias me levantava para viver um dia de vazio. Passava grande parte do tempo sozinha, pasmada frente ao mar. As noites eram passadas de insónia em insónia e com uma actividade mental permanente", descreve.
Isabel não conseguia ter um sentimento empreendedor, apenas pena de si.
O sofrimento que sentia levou-a a considerar fazer algo para acabar com aquela dor.
"Conscientemente nunca pensei em suicídio, mas houve duas noites em que tive medo de ficar sozinha e resolvi ir dormir a casa de familiares. Na segunda noite pensei em tomar comprimidos para suspender a vida porque não aguentava a aflição", lembra com angústia.
A doença deixou "muitas marcas" e hoje reconhece que antes da depressão era uma pessoa e que agora é outra. Mas teve "lados muito positivos": "Afirmei-me em muitos aspectos e compreendi muitas coisas graças à psicoterapia".
Quanto aos lados negativos, conta que, durante todo o tempo em que esteve doente, foi uma pessoa diferente, com "muitas obsessões e comportamentos" que hoje não reconhece em si. Salienta ainda toda a tristeza que sentiu e que "está vivamente armazenada na memória".
Isabel diz que foi ao "fundo de um poço muito fundo, mas devagarinho, muito devagarinho", conseguiu subi-lo. "Hoje sei que se um dia voltar a cair, há maneira de o subir" diz com um olhar brilhante, admitindo logo de seguida: "A não ser que a tragédia seja muito grande".
A depressão major é a forma mais frequente de sofrimento depressivo, constituindo-se como "uma das doenças mais prevalentes no contexto global de todas as doenças e com maior impacto na qualidade de vida individual, familiar, profissional e social", segundo a vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, Luísa Figueira.
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