quinta-feira, 1 de setembro de 2011

CARNE IN VITRO

Uma carne diferente
Data de publicação : 31 Agosto 2011 - 11:50am
Por Belinda Lopez (Foto: Clipart)
Um grupo de cientistas está se reunindo esta semana para discutir a carne de laboratório. A carne ‘in vitro’ foi saudada como a solução para problemas ambientais causados pela produção de carne em escala industrial, mas suas pesquisas nunca deslancharam.
Esta história começou no início da década de 1940, na ilha de Sumatra, na Indonésia. Um garoto holandês de 17 anos, Willem van Eelen, havia se alistado no exército colonial da Holanda, que na época estava tentando conter o fluxo de tropas japonesas durante a Segunda Guerra Mundial. Pego como prisioneiro de guerra, ele passou fome pela primeira vez. “E eu achava o comportamento dos japoneses em relação aos animais terrível. Então minha alma disse: ‘o que posso fazer’?”
Esta, pelo menos, é a explicação dada por Van Eelen, hoje com 87 anos de idade, sobre como teve pela primeira vez a ideia para a carne in vitro – ou carne produzida fora do corpo de um animal vivo.
Prêmio
Mas mais de meio século depois, apesar de um prêmio de um milhão de dólares oferecido pela organização de defesa dos animais Peta para qualquer cientista que consiga criar um bife num tubo de ensaio, além milhões de euros em subsídios do governo holandês para a pesquisa, ninguém ainda conseguiu descobrir como produzir carne em laboratório.
Isto pode ser surpreendente para quem vem prestando atenção à cobertura das descobertas científicas na mídia. Provavelmente você já ouviu dizer que a carne de laboratório tem potencial para substituir a produção convencional, com suas altas taxas de emissão de carbono e problemas quanto ao bem-estar dos animais. Mas infelizmente, isto não conta toda a história. Na verdade, o que acontece é o seguinte:
Depois de muitos anos tentando levantar fundos, Van Eelen finalmente conseguiu um subsídio em 2004: dois milhões de euros do governo holandês, distribuídos em quatro anos, para pesquisar como produzir uma amostra de carne de laboratório. Van Eelen ficou muito feliz.
Separação
Mas sete anos mais tarde, pouco progresso foi feito. Van Eelen se separou dos pesquisadores da Universidade de Utrecht, onde o estudo de quatro anos falhou em conseguir resultados tangíveis, e a pequena comunidade científica que trabalha nesta pesquisa admite que tem que pôr ordem na casa. Cientistas suecos deram o primeiro passo organizando o encontro desta semana, intitulado ‘Possibilidades e realidades para uma futura fonte alternativa de carne’.
Peter Verstrate começou como gerente da fábrica de salsichas holandesa Stegeman, mas tornou-se um dos defensores da carne de laboratório. Ele aponta alguns fatores como culpados pelo fato do projeto ainda não ter se materializado.
“Acho que a atenção da mídia pode ter saído pela culatra”, ele comenta. “A imagem que as pessoas têm, que pode ser encontrada na internet, de pedaços de carne numa placa de Petri ou em vidros no laboratório, é provocadora, mas quando você vai procurar saber mais a respeito descobre que ainda estamos muito longe deste ponto.”
Garoto propaganda
Verstrate também culpa os ‘garotos propaganda’ da carne in vitro, como Van Eelen. “Porque ele quer vender seu projeto, quer levantar dinheiro. Então ele vai fazer publicidade e dizer: ‘Ah, nós podemos fazer isso em dois ou três anos’, enquanto ele sabe que isso não é verdade.”
Verstrate e Van Eelen estão em sintonia quanto a levantar fundos através de sua Fundação Carne In Vitro. No entanto, Verstrate constata algo que Van Eelen não admite: a ciência ainda está há décadas de desenvolver um produto comercial, e quando empresas descobrem isso, em geral se afastam de comprometimentos com o projeto.
Dificuldades
É um projeto difícil de vender. Também não há um cálculo exato de quanto custará para desenvolver a carne in vitro. Um estudo sueco calculou que a carne de laboratório eventualmente poderá ser produzida pelo mesmo preço do frango, mas é difícil saber qual será a aceitação do público.
A proposta do encontro desta semana é reunir o pequeno grupo de cientistas que trabalha em núcleos separados na Holanda, Noruega, Suécia, Portugal e Estados Unidos para que todos ponham na mesa o que já se sabe sobre a produção de carne in vitro.
Os organizadores esperam que a publicidade ajude a popularizar a pesquisa e, consequentemente, a conseguir mais fundos. Mas por enquanto, ainda há uma grande interrogação sobre o futuro a carne de laboratório.

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