domingo, 18 de setembro de 2011

O retorno da coqueluche

O retorno da coqueluche: especialistas estão surpresos com surtos de doença esquecida há 30 anos
Por Antônio Marinho (amarinho@oglobo.com.br)
Agência O Globo – RIO
Há dez dias, a gerente Paula Mello, de 36 anos, mal consegue trabalhar ou dormir, sofrendo com uma tosse renitente e seca que não cessa com nada. Por conta própria, ela usou xaropes antialérgicos e pastilhas para garganta, sem sucesso. Cansada, com coriza e mal-estar, Paula procurou um médico, crente que estava apenas gripada. Mas foi diagnosticada com coqueluche. Isso mesmo, a doença esquecida há mais de 30 anos e antes só vista na infância voltou com força, atingindo crianças e adultos. Altamente contagiosa, causada por bactéria, a infecção pode trazer sérias complicações, como pneumonia. E só tem um jeito de se proteger: vacinação.
A coqueluche andava tão fora de moda que foi comentário do escritor João Ubaldo Ribeiro em sua crônica aqui no Globo semana passada: "Era uma tosse que dava em crianças". Ele lembra que o mal era tratado até com voos em avião da FAB: "Por causa da mudança de pressão atmosférica no avião, garantia-se que curava ou aliviava os sintomas". A volta da coqueluche é mesmo uma surpresa, depois de ter sido praticamente erradicada. No Brasil, o Sistema de Informações de Agravos de Notificação (Sinan) registrou 427 casos no ano passado, 80% deles em bebês menores de um ano. E o estado de São Paulo anotou aumento de 83%, entre 2006 e 2010. No Rio, o número de casos notificados saltou de 13, em 2010, para 27 este ano até agora, segundo a Secretaria municipal de Saúde. Na América Latina, o número de casos da infecção pela bactéria Bordetella pertussis cresceu quase cinco vezes entre 2003 e 2008, segundo a Organização Panamericana de Saúde. Em todo o mundo são 50 milhões de casos por ano, com 300 mil mortes, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Em 2010, foram registrados 9.774 casos num surto na Califórnia - 72% das vítimas eram bebês com menos de seis meses -, o pior em 50 anos. Na Austrália a coqueluche atacou 35 mil pessoas, de julho de 2010 ao mesmo período deste ano, e 40% foram internadas. Por que a bactéria voltou com tanta força?
Surtos em vários países
Especialistas ainda procuram resposta. A supresa da volta da doença foi tão grande que ainda há muitos médicos que demoram a desconfiar que o diagnóstico pode ser coqueluche e atrasam o pedido de confirmação laboratorial. O problema é que quanto mais tarde for feito o exame, mais difícil ter certeza do diagnóstico. A coqueluche é causada por uma bactéria e ocasiona tanto estrago no pulmão que acaba levando a outras doenças, como pneumonia. Além disto, a coqueluche pode atacar pessoas que tenham sido vacinadas na infância. Isso porque a imunidade começa a cair cinco anos após a vacinação. Quem já tomou vacina na infância tem sintomas mais leves, mas continua infectando outras pessoas. Por isso, é preciso tomar o reforço.
- Os adultos contaminam bebês no primeiro ano de vida sem vacinação ou imunização incompleta - explica Renato Kfouri, presidente da Associação Brasileira de Imunizações (SBIm, www.sbim.org.br).
De 20% a 25% das queixas de tosse contínua e seca por mais de 14 dias são coqueluche, explica Isabella Ballalai, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações Regional Rio de Janeiro (SBIm-RJ). E se a pessoa já começou a tomar antibiótico ou demorou a procurar o médico, é difícil confirmar o diagnóstico em exame de cultura. A transmissão acontece por contato direto.
- É importante vigiar e investigar sintomas. Muitos pais e avôs terminam contaminando seus bebês sem se dar conta disso - diz.
No Brasil, apenas o Instituto Adolfo Lutz em São Paulo faz, de rotina, o exame de PCR (sigla em inglês de Reação de Polimerase em Cadeia), mais sensível, rápido e eficaz no diagnóstico da coqueluche. O melhor então é se proteger com a vacina tríplice bacteriana (difteria, tétano e coqueluche, comum ou acelular ou inativada, que traz menos reações), disponível nos postos de saúde ou em clínicas particulares.
A vacina é indicada para bebês de dois, quatro e seis meses, com reforço entre 15 e 18 meses e entre 4 e 6 anos, segundo a SBIm. Adultos (inclusive grávidas) devem ser vacinados e consultar seus médicos quanto às doses. Além da vacina tríplice bacteriana, foi lançada a Adacel Quadra, de reforço, que previne coqueluche, tétano, difteria e inclui poliomielite.

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