quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Itália

Itália
Vaticano "perplexo" com investigação ao seu banco
por CATARINA REIS DA FONSECA Hoje

Presidente do Banco do Vaticano suspeito de violar lei contra lavagem de dinheiro

Adensou-se ontem a nuvem de desconfiança que paira sobre o Instituto para as Obras Religiosas (IOR), organismo da Igreja Católica conhecido como Banco do Vaticano. Segundo a Ansa, o seu presidente, Ettore Gotti Tedeschi, e outro responsável do banco cuja identidade não foi revelada, estão a ser investigados por suspeita de violação de uma lei anti-branqueamento de capitais.
De acordo com fontes judiciais citadas pela mesma agência, a instituição bancária do Vaticano pretendia realizar uma transferência de vinte milhões de euros para o banco alemão JP Morgan Frankfurt sem indicar quem ordenou a operação. Estaria também prevista uma transferência de três milhões de euros para a Banca del Fucino identificada apenas com a sigla do IOR.
Uma intenção que entra em conflito com o Decreto-Lei 231/2007 que, seguindo uma directiva europeia, introduziu em Itália a obrigação de que seja mencionado o nome do mandatário, a natureza e o objectivo de todas as operações financeiras.
As irregularidades nas transacções foram detectadas na passada quarta-feira pela unidade de informação financeira do Banco de Itália, que imediatamente bloqueou a operação. Maria Teresa Covatta, oficial da polícia financeira, ordenou o congelamento dos 23 milhões de euros, depositados numa conta corrente do IOR, que iriam ser transferidos.
O Vaticano já reagiu à notícia, dizendo-se "perplexo" com a investigação que está a ser realizada e afirmando ter "total confiança" no Presidente do banco, um homem muito próximo da Opus Dei e antigo representante do banco Santander em Itália.
Num comunicado emitido pela secretaria de Estado, o Vaticano manifesta "estupefacção com a iniciativa do Ministério Público de Roma, tendo em conta que os dados necessários já estão disponíveis no serviço competente do Banco de Itália e que operações análogas se realizam recorrentemente noutros estabelecimentos de crédito italianos." A secretaria de Estado destaca ainda a sua "vontade clara, manifestada em várias ocasiões, de total transparência no que diz respeito às operações financeiras do IOR".
Em Junho, o jornal La Repubblica tinha noticiado que o Banco do Vaticano, a instituição que gere as contas das ordens religiosas e associações católicas, estava a ser investigado por suspeita de envolvimento em operações de lavagem de dinheiro.
Segundo o jornal, os investigadores desconfiavam que pessoas com residência fiscal em Itália estavam a usar o IOR como uma "cortina" para esconder crimes de fraude e evasão fiscal.
Os casos de corrupção no seio do Banco do Vaticano já fizeram correr rios de tinta no passado. Em 1982, o então Presidente do IOR, Paul Marcinkus, foi acusado de estar envolvido na falência do banco Ambrosiano - a maior instituição financeira privada em Itália na altura - cujo principal accionista era o Banco do Vaticano . Marcinkus terá apoiado o gerente do Ambrosiano, Roberto Calvi, na realização de pagamentos à loja maçónica P2 e no desvio de fundos para uso particular. Marcinkus nunca foi preso e Calvi suicidou-se.

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