terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

SUDÃO

Eleições no Sudão estão bem longe da democracia
Data de publicação : 16 Fevereiro 2010 - 3:17pm
Por Jesús Núñez Villaverde (Foto: Flickr)

Embora as eleições gerais devam acontecer em abril, o Sudão ainda deve percorrer um longo caminho até chegar à democracia. Longe da atenção da mídia, o país vive um momento importante para o futuro.
Depois de uma guerra de 22 anos, a assinatura do Acordo Global da Paz (CPA, em inglês) em 2005 deixava os 39 milhões de habitantes diante da possibilidade de virar a página da violência como forma de vida, e o subdesenvolvimento, como característica principal de um país que figura no rodapé de todas as estatísticas internacionais.
Entretanto, o CPA sequer serviu para iluminar um país que sonha com a unidade. De um lado estão as autoridades de Cartum, encabeçadas pelo golpista Omar al Bashir, que forçam as regras do jogo para poder continuar exercendo seu poder abusivo. Do outro, as autoridades do sul, com Salva Kiir, apontam claramente o rompimento com o norte.
As feridas de guerra ainda nem fecharam enquanto outras se abrem. As novas feridas relacionam-se com a indefinição das fronteiras entre o norte e o sul ou com as crescentes rinchas pelo uso da água em áreas muito afetadas pela seca.
Nesse cenário de contínua degradação, a principal vítima é a população sudanesa, cujo maltrato só pode desembocar em mais instabilidade e subdesenvolvimento.
Medidas discriminatóriasEnquanto que o CPA não tenha sido sequer traduzido para todos os idiomas significativos do país, as autoridades de Cartum não duvidaram em aprovar leis como as que afetam aos meios de comunicação ou aos serviços de segurança – claramente discriminatórias, na tentativa de fechar espaços a qualquer tipo de oposição.
Ao mesmo tempo, executam um processo de censo (2008) e registro eleitoral (2009) que deixa de fora a amplos coletivos de potenciais eleitores. Supõe-se que nem a população de Darfur nem grande parte da população desalojada pelo conflito poderão exercer seus direitos civis.
Com essa mesma filosofia impôs-se condições para a realização da campanha eleitoral que vai impedir que muitos candidatos possam conhecer seus possíveis eleitores.
A campanha eleitoral posta em marcha é populista, compra de votos e a eliminação política dos adversários, ainda que a data das eleições ainda nem tenha sido estabelecida.
Nestas condições, chega a ser sarcástico falar de eleições como ‘festa da democracia’. Pode ser que para Bashir e seus apoiadores o seja, mas não é para a grande maioria dos sudaneses nem deveria sê-lo para a comunidade internacional.
Recordemos que estas eleições – que incluem as presidenciais e as legislativas no norte e sul do país, bem como as de governadores – são resultado da pressão internacional, sobretudo de Washington, com a idéia original de assegurar o CPA e legitimar aos atores políticos que deveriam trabalhar por um Sudão unido. Um pleito eleitoral nessas condições acabariam com a inevitável vitória de um interlocutor indesejável.
Os sinais de tormenta são cada vez mais visíveis. Se não se atua agora, a volta à guerra será bem provável. Continuaremos olhando para o outro lado, com uma missão de paz ONU/UA pouco disposta a envolver-se além do formalmente necessário, junto às agências de cooperação que têm que cobrir o eco que a vontade política dos governos não é capaz de satisfazer?

FONTE:

RADIO NEDERLAND WERELDOMROEP - HOLANDA

http://www.rnw.nl/pt-pt/portugu%C3%AAs/article/elei%C3%A7%C3%B5es-no-sud%C3%A3o-est%C3%A3o-bem-longe-da-democracia

Nenhum comentário:

Postar um comentário