segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

MÉXICO

Desafios no combate à violência no México
Por Marta Durán de Huerta (www.parceria.nl)
A cidade mexicana de Juarez é considerada a mais perigosa do mundo. O número de assassinatos aumenta, mas as autoridades se limitam a dizer que se trata de um ajuste de contas entre criminosos.
No último sábado de janeiro, um grupo de homens armados invadiu uma festa de adolescentes atirando e matou 16 adolescentes. Mais de dez ficaram feridos.
Durante uma viagem oficial ao Japão, o presidente mexicano Felipe Calderón afirmou que o chacina está relacionada a um conflito de gangues do crime organizado. A declaração provocou indignação entre os familiares das vítimas. As crianças mortas eram estudantes, com boas notas, praticavam esportes e faziam parte de um grupo de apoio a crianças com câncer. As organizações civis e a imprensa também reagiram, pedindo justiça e o fim da impunidade.
Perguntas sem resposta
Algumas das perguntas inevitáveis são: Por que massacrar jovens que não tinham nenhum laço com o crime organizado? Quem fez isto? Trata-se de uma mensagem para a sociedade para deixar claro quem é que está no comando? O banho de sangue não era necessário para comprovar o óbvio: o crime organizado no México é quem governa em áreas onde o Estado falhou, por negligência ou por cumplicidade.
Felipe Calderón enviou recentemente um total de dez mil soldados a Juarez. Entretanto, em vez de melhorar, a situação piorou. Antes da chegada dos militares eram registrados em média dois homicídios por dia. Agora, apesar das patrulhas, a média diária subiu para 10 execuções. Para piorar, mesmo com a captura de alguns chefes do crime organizado, confrontos e milhares de mortos, tudo continua como antes. O que aconteceu? Como interpretar estes números?
Leoluca Orlando: é possível mudar
Quando prefeito de Palermo, Leoluca Orlando conseguiu coibir ações da máfia no sul da Itália. Ele removeu policiais, políticos, juízes e funcionários de todas as instâncias do poder público que tinham ligações com o crime organizado.
Em seus livros e dezenas de entrevistas, Leoluca Orlando alega, em primeiro lugar, que o combate à criminalidade não é uma questão de força bruta, mas sim de cumprimento da lei. O homem responsável pelos golpes mais duros à máfia italiana afirma que há esperança em Chihuahua, no México. Para ele, é a sociedade quem deve cobrar mais, deixando de ser mera espectadora deste drama. Uma condição necessária para combater o narcotráfico é acabar com os valores perversos do crime organizado e da corrupção.
O principal inimigo do México, segundo Leoluca Orlando, é o mexicano corrupto. Ele acrescenta que "se a sociedade não participar, o corrupto vai destruir o país. Já vemos isto acontecendo nas regiões que são, de fato, governadas por traficantes de drogas. Vemos a ‘justiça’ dos traficantes contra a justiça das leis e do Estado". O ex-prefeito de Palermo disse à imprensa mexicana que há uma diferença entre o crime comum e o crime organizado, pois o último tem valores perversos.
A região da Sicília na Itália enfrentou a mesma situação pela qual passa a cidade de Juarez, com valores perversos de corrupção, machismo, sem respeito aos direitos humanos e às leis. Além disso, a máfia controlava todo o território. Segundo o advogado italiano, uma cultura da legalidade é essencial. Ela exige a participação dos cidadãos, que devem compreender que a corrupção promove subdesenvolvimento. É necessário envolver professores, famílias, empregadores, e também a polícia.
No norte do México, as crianças brincam de ser traficantes de drogas e simulam tiroteios com armas de brinquedo. Elas reproduzem o que vêem, os acontecimentos de todos os dias. Crianças de famílias desestruturadas, pobres, sem acesso à educação, sem emprego, sem futuro. São vítimas baratas e abundantes, e muitos tornam-se assassinos antes de atingirem a idade adulta.
Gloria Leticia Díaz, repórter da Revista Proceso, conhece crianças e jovens que se tornaram assassinos. Ela viveu com eles durante meio ano para preparar um trabalho especial. Eles não receberam nenhuma atenção ou afeto no âmbito familiar. Eles não têm futuro pois sabem que em breve terão uma morte violenta, por isso escolhem viver apenas o hoje. Estes adolescentes admiram os grandes chefes do crime, pois eles têm carros caros, celulares e estão sempre acompanhados de mulheres bonitas. Eles sabem que não chegarão à idade adulta, o que é muito grave, porque essa é sua principal motivação para percorrer o mundo matando pessoas.
Há outros jovens que estudam ou trabalham e estão apavorados com a violência em torno deles, mas não podem reclamar ou não tem a quem se dirigir. As autoridades não garantem a sua segurança, não cumprem seus deveres.
Esperança
Edgardo Buscaglia, um especialista em combate ao crime organizado, diz que há urgência em promover a infraestrutura social do país, porque devido à falta de boas alternativas os jovens estão caindo nas garras destes grupos.
Leoluca Orlando diz que por serem inocentes, as crianças têm um enorme potencial para mudar as coisas. Portanto, é fundamental evitar que elas se envolvam com o crime organizado. Todos devemos participar desta luta que exige muita coragem civil.
Os adolescentes mortos na semana eram do bem, por isso não só as suas pessoas foram baleadas, mas também a esperança.
FONTE:
RADIO NEDERLAND WERELDOMROEP - HOLANDA

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