Eu sou Adventista do Sétimo Dia. Convicto e convencido. Isso quer dizer, antes de tudo mais, que acredito na breve volta de Jesus à Terra, e na guarda do Sábado do sétimo dia como dia de repouso bíblico, ordenado e santificado por Deus.
Adicionalmente, quer dizer também que me identifico e subscrevo a doutrina que esta igreja, desde a sua fundação, vem anunciando. Acima de tudo, creio que a sua existência cumpre um propósito específico determinado por Deus e profetizado na Sagrada Escritura, ao desempenhar esta igreja um papel fundamental na pregação da última e urgente mensagem de Deus a este mundo.
Na minha perspetiva, estes dados não fazem dos Adventistas do Sétimo Dia melhores nem piores do que todas as outras religiões. Simplesmente, faz-nos diferentes. E são essas diferenças que desde sempre me habituei a ver e viver.
Recordo quando em criança fazia a pé os oito quilómetros (ida e volta) que separavam a minha casa da igreja, para frequentar as atividades dos Desbravadores, então chamados de Missionários Voluntários. Pelo caminho, eram evidentes os olhares indiscretos de vizinhos e conhecidos, comentando, normalmente em termos negativos, o lenço de cores vivas e a Bíblia debaixo do braço que fazia questão de sempre transportar. Quantas vezes, ouvia da parte destes o já clássico 'lá vão os filhos dos protestantes...'.
Na escola, era motivo de surpresa o fato de nem sempre almoçar a mesma comida. Quando esta não respeitava a ordem bíblica, felizmente me contentava com vários pratos de sopa e a fruta que era servida. Mais ainda, a minha saída das aulas bem antes do fim das mesmas à sexta-feira de tarde, era encarado por alguns como um privilégio injusto, motivando comentários irónicos do tipo, 'também quero ir para a tua religião!'
Ainda bem que assim foi, pois assim é que tudo estava certo. Eu não era melhor nem pior; simplesmente, era diferente, e por isso tinha de me comportar como tal. E fazia-o com toda a alegria e satisfação.
O mesmo eu via a partir dos nossos púlpitos. Homens que eu achava corajosos, e que ainda hoje respeitosamente mantenho como referência, erguiam a voz sem medos ou receios de qualquer tipo, para falarem daquilo que é a pregação adventista, e que nos distingue e demarca das outras crenças: como referi a volta de Jesus e o Sábado, bem apoiados por questões como os Dez Mandamentos, o arrependimento e conversão dos pecados, o santuário, o juízo divino e as profecias de Daniel e Apocalipse.
Em relação a este último aspeto, lemos o seguinte em Testemunhos para Ministros, capítulo 11, que Ellen White escreveu: 'há necessidade de mais íntimo estudo da Palavra de Deus; especialmente devem Daniel e Apocalipse merecer a atenção como nunca antes na história de nossa obra'.
Ora, esta afirmação é uma marca específica da nossa teologia e pregação. Os assuntos proféticos daqueles dois livros são fundamentais à nossa doutrina; fazem parte de nós como povo de forma tão intrínseca quanto a raiz a uma árvore. Muito do que nos distingue e separa de quase todos encontra-se ali, daí que, principalmente para esses assuntos somos chamados a erguer a nossa voz, proclamando a palavra de Deus.
Lamentavelmente, parece que algo tem vindo a mudar com relação ao enfoque principal do nosso discurso, da nossa pregação.
A minha memória não me leva mais do que trinta anos atrás. Mas este é o tempo suficiente para eu poder afirmar que, nesse mesmo período, apenas por duas vezes vi a minha igreja local promover Seminários de Daniel e Apocalipse. Apenas por uma vez vi um programa dedicado aos Dez Mandamentos. E mesmo nos sermões dos Cultos de Sábado, os assuntos de Daniel e Apocalipse têm estado algo ausentes. Creio que o panorama não será muito diferente por outras bandas...
Por outro lado, nos últimos anos multiplicaram-se grandemente as iniciativas de saúde, desde planos para deixar de fumar, cursos de cozinha vegetariana, temperança, etc..
Da mesma forma, as obras caritativas da Igreja, como, globalmente, a ADRA, e, localmente, as habituais recolhas e entregas de bens aos necessitados por ocasião do Natal, são, em qualquer lado, um (talvez deva dizer o)fator de reconhecimento externo .
E o que dizer da crescente importância que temos atribuído a assuntos sociais, como por exemplo a violência familiar, seja para com a mulher ou as crianças, ou a pobreza (entenda-se, material)?
Mas ainda, e aqui assumo que coloco o dedo na ferida, são frequentes as ocasiões, mesmo nos tais Cultos de Sábado, que atribuímos todo o destaque a estas causas, em detrimento daquilo que, repito, sempre foi o núcleo da nossa existência! Elas, parecem estar a tomar de assalto o lugar de protagonismo e referência (interna e externa) que nunca antes lhes foi dado entre nós.
Repare, caro leitor, que em nada as minhas palavras retiram a importância reconhecida que cada um daqueles aspetos tem na nossa igreja - tão somente, não é essa a nossa marca identificativa, não é por isso que nos diferenciamos, não são estas as razões que nos fazem um povo separado, distinto! No fundo, não é este o motivo, primeiro e maior, da nossa ação e da nossa pregação!
Ao afrouxarmos, e é nítido que o temos feito, a nossa pregação das mais importantes verdades para este tempo, e que foram a razão do nosso surgimento, abrimos caminho àquilo que ameaça transformar-nos em apenas mais uma igreja de ações sociais, arrisco mesmo dizer humanistas, quase roçando por vezes um ativismo de esquerda política, que nunca se pode justificar entre nós. (Curiosa e paradoxalmente, esta é também uma marca... da Igreja Católica.)
Creio que isso acontece, pelo menos em parte, porque é mais fácil sermos... iguais, no mínimo, parecidos. É mais fácil, aparentemente, agir de forma a recolher simpatias e créditos junto dos que nos rodeiam. E quando digo mais fácil, não deixo sem resposta os que se questionam 'mais fácil do que o quê...?'
Caro leitor, digo-lhe com toda a seriedade: mais fácil do que manter a mensagem de advertência que Deus desde sempre nos mandou pregar: que Ele está quase a voltar e que o Seu Santo Sábado deve ser honrado! Mais fácil do que pregar a terrível mensagem de Apocalipse 13: que Satanás se ergue nas trevas desde mundo usando o poder político (EUA) e o pode religioso (Vaticano) para fazer guerra contra Deus!
Sim, mais fácil; mas não o motivo pelo qual Deus nos fez surgir!
Irão alguns argumentar que tais métodos são apenas a forma moderna de nos aproximarmos das pessoas, de lhes granjearmos uma justa simpatia para, então depois, lhes apresentarmos as verdades eternas, as tais que nos distinguem. O problema desta argumentação reside no fato de, na maioria das vezes, aquilo que deveria ser o tal método de aproximação, acaba tornado-se o fim. E nada mais do que isso.
Caro irmão Adventista, cuidado se, mesmo sem nos apercebermos, estamos a ceder, desviando o foco da nossa ação!
Adicionalmente, quer dizer também que me identifico e subscrevo a doutrina que esta igreja, desde a sua fundação, vem anunciando. Acima de tudo, creio que a sua existência cumpre um propósito específico determinado por Deus e profetizado na Sagrada Escritura, ao desempenhar esta igreja um papel fundamental na pregação da última e urgente mensagem de Deus a este mundo.
Na minha perspetiva, estes dados não fazem dos Adventistas do Sétimo Dia melhores nem piores do que todas as outras religiões. Simplesmente, faz-nos diferentes. E são essas diferenças que desde sempre me habituei a ver e viver.
Recordo quando em criança fazia a pé os oito quilómetros (ida e volta) que separavam a minha casa da igreja, para frequentar as atividades dos Desbravadores, então chamados de Missionários Voluntários. Pelo caminho, eram evidentes os olhares indiscretos de vizinhos e conhecidos, comentando, normalmente em termos negativos, o lenço de cores vivas e a Bíblia debaixo do braço que fazia questão de sempre transportar. Quantas vezes, ouvia da parte destes o já clássico 'lá vão os filhos dos protestantes...'.
Na escola, era motivo de surpresa o fato de nem sempre almoçar a mesma comida. Quando esta não respeitava a ordem bíblica, felizmente me contentava com vários pratos de sopa e a fruta que era servida. Mais ainda, a minha saída das aulas bem antes do fim das mesmas à sexta-feira de tarde, era encarado por alguns como um privilégio injusto, motivando comentários irónicos do tipo, 'também quero ir para a tua religião!'
Ainda bem que assim foi, pois assim é que tudo estava certo. Eu não era melhor nem pior; simplesmente, era diferente, e por isso tinha de me comportar como tal. E fazia-o com toda a alegria e satisfação.
O mesmo eu via a partir dos nossos púlpitos. Homens que eu achava corajosos, e que ainda hoje respeitosamente mantenho como referência, erguiam a voz sem medos ou receios de qualquer tipo, para falarem daquilo que é a pregação adventista, e que nos distingue e demarca das outras crenças: como referi a volta de Jesus e o Sábado, bem apoiados por questões como os Dez Mandamentos, o arrependimento e conversão dos pecados, o santuário, o juízo divino e as profecias de Daniel e Apocalipse.
Em relação a este último aspeto, lemos o seguinte em Testemunhos para Ministros, capítulo 11, que Ellen White escreveu: 'há necessidade de mais íntimo estudo da Palavra de Deus; especialmente devem Daniel e Apocalipse merecer a atenção como nunca antes na história de nossa obra'.
Ora, esta afirmação é uma marca específica da nossa teologia e pregação. Os assuntos proféticos daqueles dois livros são fundamentais à nossa doutrina; fazem parte de nós como povo de forma tão intrínseca quanto a raiz a uma árvore. Muito do que nos distingue e separa de quase todos encontra-se ali, daí que, principalmente para esses assuntos somos chamados a erguer a nossa voz, proclamando a palavra de Deus.
Lamentavelmente, parece que algo tem vindo a mudar com relação ao enfoque principal do nosso discurso, da nossa pregação.
A minha memória não me leva mais do que trinta anos atrás. Mas este é o tempo suficiente para eu poder afirmar que, nesse mesmo período, apenas por duas vezes vi a minha igreja local promover Seminários de Daniel e Apocalipse. Apenas por uma vez vi um programa dedicado aos Dez Mandamentos. E mesmo nos sermões dos Cultos de Sábado, os assuntos de Daniel e Apocalipse têm estado algo ausentes. Creio que o panorama não será muito diferente por outras bandas...
Por outro lado, nos últimos anos multiplicaram-se grandemente as iniciativas de saúde, desde planos para deixar de fumar, cursos de cozinha vegetariana, temperança, etc..
Da mesma forma, as obras caritativas da Igreja, como, globalmente, a ADRA, e, localmente, as habituais recolhas e entregas de bens aos necessitados por ocasião do Natal, são, em qualquer lado, um (talvez deva dizer o)fator de reconhecimento externo .
E o que dizer da crescente importância que temos atribuído a assuntos sociais, como por exemplo a violência familiar, seja para com a mulher ou as crianças, ou a pobreza (entenda-se, material)?
Mas ainda, e aqui assumo que coloco o dedo na ferida, são frequentes as ocasiões, mesmo nos tais Cultos de Sábado, que atribuímos todo o destaque a estas causas, em detrimento daquilo que, repito, sempre foi o núcleo da nossa existência! Elas, parecem estar a tomar de assalto o lugar de protagonismo e referência (interna e externa) que nunca antes lhes foi dado entre nós.
Repare, caro leitor, que em nada as minhas palavras retiram a importância reconhecida que cada um daqueles aspetos tem na nossa igreja - tão somente, não é essa a nossa marca identificativa, não é por isso que nos diferenciamos, não são estas as razões que nos fazem um povo separado, distinto! No fundo, não é este o motivo, primeiro e maior, da nossa ação e da nossa pregação!
Ao afrouxarmos, e é nítido que o temos feito, a nossa pregação das mais importantes verdades para este tempo, e que foram a razão do nosso surgimento, abrimos caminho àquilo que ameaça transformar-nos em apenas mais uma igreja de ações sociais, arrisco mesmo dizer humanistas, quase roçando por vezes um ativismo de esquerda política, que nunca se pode justificar entre nós. (Curiosa e paradoxalmente, esta é também uma marca... da Igreja Católica.)
Creio que isso acontece, pelo menos em parte, porque é mais fácil sermos... iguais, no mínimo, parecidos. É mais fácil, aparentemente, agir de forma a recolher simpatias e créditos junto dos que nos rodeiam. E quando digo mais fácil, não deixo sem resposta os que se questionam 'mais fácil do que o quê...?'
Caro leitor, digo-lhe com toda a seriedade: mais fácil do que manter a mensagem de advertência que Deus desde sempre nos mandou pregar: que Ele está quase a voltar e que o Seu Santo Sábado deve ser honrado! Mais fácil do que pregar a terrível mensagem de Apocalipse 13: que Satanás se ergue nas trevas desde mundo usando o poder político (EUA) e o pode religioso (Vaticano) para fazer guerra contra Deus!
Sim, mais fácil; mas não o motivo pelo qual Deus nos fez surgir!
Irão alguns argumentar que tais métodos são apenas a forma moderna de nos aproximarmos das pessoas, de lhes granjearmos uma justa simpatia para, então depois, lhes apresentarmos as verdades eternas, as tais que nos distinguem. O problema desta argumentação reside no fato de, na maioria das vezes, aquilo que deveria ser o tal método de aproximação, acaba tornado-se o fim. E nada mais do que isso.
Caro irmão Adventista, cuidado se, mesmo sem nos apercebermos, estamos a ceder, desviando o foco da nossa ação!
FONTE:
O TEMPO FINAL
Filipe Reis
Vila Nova de Gaia, Porto, Portugal
Adventista do Sétimo Dia, batizado em março de 1989. Servi como Diretor da Escola Sabatina e Ancião da Igreja, entre outras funções. Colportor Evangelista da UPASD. Colunista Oficial do blogue Nisto Cremos. Em breve iniciarei a minha formação em Teologia. Casado com Sofia, temos um bebé, o Caleb Filipe, nascido em junho de 2009. Aguardamos juntos a volta de Jesus.
Vila Nova de Gaia, Porto, Portugal
Adventista do Sétimo Dia, batizado em março de 1989. Servi como Diretor da Escola Sabatina e Ancião da Igreja, entre outras funções. Colportor Evangelista da UPASD. Colunista Oficial do blogue Nisto Cremos. Em breve iniciarei a minha formação em Teologia. Casado com Sofia, temos um bebé, o Caleb Filipe, nascido em junho de 2009. Aguardamos juntos a volta de Jesus.
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