segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Europa tenta se livrar da vacina contra gripe A

Europa tenta se livrar da vacina contra gripe A
Europeus não sabem o que fazer com o excedente de vacina contra a influenza A(H1N1). (Keystone)
Vários países europeus, entre eles a Suíça, tentam se livrar do excesso de vacinas contra a gripe A(H1N1), a chamada gripe suína, que não foi tão forte quanto previsto.
Berna comprou 13 milhões de doses. Agora uma parte deverá ser doada ou vendida ao exterior, a outra será mantida em estoque para uma eventual próxima pandemia.
Em meio a uma polêmica sobre sua cara campanha de vacinação contra a gripe suína, a França anunciou na última segunda-feira que cancelaria a compra de 50 milhões das 94 milhões de doses que havia encomendado.
Inicialmente, o país tinha previsto gastar 869 milhões de euros com 94 milhões de doses da vacina, estimando que cada cidadão receberia duas doses. Mas apenas 5 milhões dos 65 milhões de franceses se vacinaram, e as autoridades europeias de saúde disseram que uma dose é suficiente.
Paris seguiu decisões semelhantes tomadas no mês passado pela Suíça, Espanha, Alemanha e Holanda de reavaliar as encomendas de vacinas que haviam feito no início da pandemia.
A Suíça, que tem uma população de 7,7 milhões de habitantes, encomendou 13 milhões de doses de vacina da britânica GlaxoSmithKline (GSK) e da empresa nacional Novartis, no valor de 84 milhões de francos, sem contar os custos de estocagem
Apenas 3 milhões de doses foram enviadas aos estados. A Secretaria Federal de Saúde (SFS) ainda não sabe quantas foram usadas. Algumas autoridades estaduais falam de índices de vacinação entre 15 e 30% da população (no cantão de Berna, por exemplo, 13 a 15%).
Em dezembro, o governo disse que planejava doar à Organização Mundial da Saúde (OMS) ou vender a outros países cerca de 4,5 milhões de doses excedentes da vacina contra a gripe suína, devido à pouca procura pela população.
"Estão em curso negociações com vistas à venda ou doação de nossos estoques", disse o porta-voz da SFS, Jean-Louis Zurcher, à swissinfo.ch. Zurcher não revelou quais países estariam interessados e não confirmou se a Suíça, como a França e a Alemanha, negocia com empresas farmacêuticas o cancelamento de pedidos ou a devolução das vacinas excedentes.
"Muito dinheiro foi investido nas vacinas, mas a situação de pandemia poderia ter sido muito pior", acrescentou.
Cancelamentos
A Alemanha também está tentando se livrar dos excedentes e renegociar as encomendas feitas durante a fase inicial da onda de gripe A(H1N1). Na quinta-feira (7/1), Berlim começou a negociar com a GSK um corte de metade das 50 milhões de doses da vacina Pandemrix encomendadas.
A Holanda anunciou em novembro de 2009 que iria vender 19 milhões das 34 milhões de doses encomendadas.
A Espanha tenta devolver vacinas não utilizadas, argumentando que seus contratos com a Novartis (22 milhões de doses), a GSK (14,7 milhões) e a Sanofi-Aventis (400 mil) incluem cláusulas que permitem a devolução de excedentes.
Um porta-voz do Ministério da Saúde britânico disse à agência France Presse, no domingo, que seu país também considera a possibilidade de vender vacina não utilizada.
Mina de ouro
Diante disso, os analistas estão cada vez mais pessimistas quanto à receita dos fabricantes de vacinas e as perspectivas de lucros com a pandemia da gripe A(H1N1), que já era considerada uma mina de ouro do setor.
Analistas do Morgan Stanley disseram que os últimos cortes franceses sublinham a diminuição da demanda por vacinas contra o vírus A(H1N1) e representam um "modesto risco de curto prazo para os resultados" da GSK, Novartis e Sanofi. "
A longo prazo, o excesso de capacidade evidente da produção da vacina conta o H1N1 deve limitar o aumento da receita associada à gripe pandêmica", acrescentaram.
As vendas de vacinas contra o vírus H1N1 tem sido uma bênção para as empresas farmacêuticas. A GSK poderá ser a maior beneficiária, com vendas previstas no valor 3,7 bilhões de francos até o final do primeiro trimestre de 2010, segundo analistas. A Sanofi e a Novartis previram lucros estimados em 1,1 bilhão e 628 milhões de francos, respectivamente.
Os últimos cancelamentos de pedidos na Europa podem reduzir esses números. Mas um porta-voz da Sanofi disse que sua empresa deverá compensar a queda de vendas na França com encomendas de outras partes do mundo.
A Glaxo recusou-se a comentar o eventual impacto comercial das últimas decisões, mas um porta-voz disse que o grupo britânico estava discutindo as encomendas com os governos.
"A Novartis irá avaliar caso a caso os pedidos do governo, no âmbito dos acordos contratuais que consideramos vinculativos", disse Eric Althoff, diretor de relações com a mídia da gigante farmacêutica suíça.
"Fiasco extravagante"
A decisão do governo francês veio depois de fortes críticas de políticos e cientistas. O Partido Socialista, de oposição, descreveu a campanha nacional francesa como um fiasco "extravagante" e exigiu uma investigação parlamentar.
Países-membros do Conselho da Europa avaliam a possibilidade de criar uma comissão de inquérito para analisar a influência das empresas farmacêuticas sobre a campanha global da gripe suína.
A campanha da " falsa pandemia" da gripe, encenada pela Organização Mundial da Saúde e outros institutos em benefício da indústria farmacêutica, foi "um dos maiores escândalos da medicina no século", disse o médico alemão Wolfgang Wodarg, presidente da Comissão de Saúde Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, que apresentou a proposta a ser debatida em 25 de janeiro.
FONTE:
SWISSINFO.CH
Simon Bradley, swissinfo.ch e agências(Adaptação: Geraldo Hoffmann)

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