quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

ÁFRICA

Biafra: 40 anos da guerra que acabou com um país
por SÉRGIO SOARES, LUSA

Ajuda de Portugal não foi suficiente para evitar o massacre de milhares de cristãos que queriam ser independentes da Nigéria.
Dia 15 de Janeiro de 1970, faz 40 anos, o Biafra deixou de existir, mergulhado na maior tragédia humanitária que o mundo conheceu fora da Europa no século XX, e foi reintegrado na Nigéria.
A República do Biafra teve uma existência efémera entre 30 de Maio de 1967 e 15 de Janeiro de 1970. O Vaticano, Portugal e França foram os seus principais aliados. O Reino Unido, ex-potência colonial, o Egipto e a URSS apoiaram a Nigéria. A China também apoiou o Biafra, denunciando o apoio à Nigéria do "imperialismo revisionista", numa alusão à URSS.
A crise do Biafra começou em 1966 na sequência de uma tentativa falhada de golpe de Estado na Nigéria. A maioria dos oficiais superiores envolvidos pertencia à etnia ibo (cristãos do Biafra), a elite do país. No rescaldo do golpe, 30 mil ibos foram massacrados pelos militares islâmicos.
Oito milhões de ibos viviam na região oriental da Nigéria que tinha como governador provincial o coronel Chukwuemeka Odumegwu (Emeka) Ojukwu. Foi ele que declarou a independência da região a 30 de Maio de 1967.
Na resposta, as forças armadas nigerianas bombardearam e mataram indiscriminadamente soldados biafrenses e civis. A marinha da Nigéria fez um bloqueio que impediu o acesso a alimentos, medicamentos e armamento.
No pico da crise humanitária, cinco mil biafrenses morriam todos os dias de fome e doença. O Governo nigeriano agravou a situação ao proibir o auxílio da Cruz Vermelha Internacional.
O Biafra foi a primeira nação africana a refinar o seu próprio petróleo, o que desagradou às multinacionais que ali operavam e que tinham sede em Lagos, a capital.
Um ataque da guerrilha contra pipelines da Shell-BP na região, onde o Reino Unido recolhia 20 por cento do seu petróleo, da Nigéria, ditou as alianças das petrolíferas com o Governo de Lagos.
A guerra do Biafra foi o primeiro grande desastre humanitário provocado por um conflito de origem étnica, após o Holocausto. Foi também o primeiro conflito armado do século XX em África, entre africanos, e a primeira guerra onde a questão do acesso às fontes de energia teve um peso determinante. Por esse motivo, o Reino Unido foi a única potência ocidental que alinhou com o Governo Federal da Nigéria que era apoiado pela União Soviética.
O conflito - e as suas consequências trágicas - foi também o primeiro a receber ampla cobertura mediática internacional.
Em 1970, a catástrofe humanitária do Biafra assumia dimensões bíblicas. Quando a região foi reintegrada na Nigéria tinham morrido cerca de três milhões de pessoas e a imagem da tragédia eram os campos de refugiados com milhares de crianças famélicas.
Em 1980, o Governo nigeriano concedeu um perdão a Ojukwu, que agora goza de um estatuto de ex-estadista e vive confortavelmente em Enugu, a antiga capital do Biafra.
Confessando não sentir remorsos nem qualquer responsabilidade pelo que se passou, Ojukwu disse recentemente que se voltasse atrás "repetiria tudo", porque "todas as razões que levaram à secessão ainda não foram resolvidas e estão agravadas".

FONTE:

DN GLOBO

http://dn.sapo.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=1469361&seccao=%C1frica

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