domingo, 14 de agosto de 2011

Superbactéria


Crianças que tomam muito antibiótico correm maior risco de contrair superbactéria
As chances de carregar a bactéria resistente podem ser até 18 vezes maiores em casos onde há prescrição de quatro drogas ou mais
Staphylococcus aureus resistente à meticilina: a superbactéria está mais presente em crianças que já tomaram muitos antibióticos (Thinkstock)
Crianças que tomam muito antibiótico têm até 18 vezes mais chances de contrair a superbactéria MRSA (abreviação em inglês para Staphylococcus aureus resistente à meticilina). Embora a infecção seja rara, uma pesquisa canadense aponta que ela pode ser mais comum quando a criança recebe quatro ou mais prescrições médicas de antibióticos. A pesquisa foi publicada no periódico médico Archives of Pediatrics & Adolescent Medicine.
A bactéria MRSA chegou aos Estados Unidos na década de 1960. Mas foi apenas no início de 1980, quando ela infectou uma vítima de queimadura em um hospital de Seattle e causou um surto devastador, que os médicos perceberam o quão séria a situação realmente era. Em 2005, estima-se que a bactéria tenha causado infecções severas em 95.000 americanos, matando cerca de 18.500.
O número de infecções contraídas dentro dos hospitais tem decaídos nos últimos anos, mas não há tanta certeza sobre as que acontecem fora deles – batizadas de 'MRSA adquirida na comunidade'. "Isso continua a ser um problema, mas o aumento dramático que vimos na última década parece ter estabilizado em muitas áreas e pode estar diminuindo em algumas", diz Daniel J. Diekema, especialista em doenças infecciosas da Universidade de Iowa.
De acordo com Diekema, no entanto, a pesquisa não demonstrou a relação de causalidade entre os antibióticos e a MRSA – apenas sua relação direta. Mas, segundo ele, a relação teria um sentido biológico já conhecido. "Isso fornece mais evidências que apoiam nossos esforços para diminuir o uso de antibióticos", diz.
Pesquisa – Estudos anteriores já haviam demonstrado que adultos com diversas prescrições de antibióticos eram mais suscetíveis a abrigar a MRSA. Para checar a relação com as crianças foram analisados dados de diagnósticos feitos em clínicas médicas na Inglaterra entre 1994 e 2007. Eles encontraram, então, 4,5 casos de MRSA para cada 100.000 crianças todos os anos, embora não tenha ficado claro se a criança tinha uma infecção ativa ou apenas carregava a bactéria na pele, onde ela é inofensiva. "Em geral, apenas uma minoria das pessoas que carrega a MRSA se infecta", diz Diekema.
Das 297 crianças que tiveram confirmação para MRSA, mais da metade (53%) receberam prescrição de no mínimo um antibiótico entre 30 e 180 dias antes do diagnóstico (os últimos 30 dias foram excluídos para se ter certeza de que a droga não foi usada para tratar MRSA). Em contrapartida, apenas 14% das mais de 9.000 crianças que visitaram os mesmos médicos, mas não tinham MRSA, haviam tomado recentemente antibióticos.
Depois de contabilizar as diferenças entre os dois grupos de crianças, os riscos se mostraram três vezes maiores de abrigar MRSA para as crianças que haviam tomado muitos antibióticos. E quanto mais antibióticos a criança havia tomando, mais sujeita estava a contrair a bactéria resistente. Aqueles que tiveram quatro ou mais prescrições, por exemplo, tinham 18 vezes mais riscos de MRSA.
Por outro lado, quase metade das crianças que tinham a bactéria não havia recebido antibiótico algum na metade do ano anterior ao diagnóstico. "Essa é uma observação intrigante que esperamos que vá culminar em investigações sobre os mecanismos de desenvolvimento da MRSA", diz Samy Suissa, coordenador da pesquisa.

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