O que as pessoas comem pode interferir no risco de doenças mentais
Estudos anteriores mostram que a dieta está associada à redução de comportamentos anormais em pessoas ou animais com doenças mentais. Agora, um novo estudo mostra que a dieta também pode desencadear o aparecimento de doenças mentais.
Ou seja, dependendo das alterações na sua dieta, você pode tanto reduzir o risco quanto desencadear uma doença mental.
Na nova pesquisa, os pesquisadores alimentaram ratos com uma dieta rica em açúcar e triptofano, que deveria reduzir comportamentos anormais. Em vez disso, os ratos que já estavam doentes pioraram seu comportamento anormal (de puxar seus pêlos) ou iniciaram um outro comportamento auto-prejudicial, de se arranhar, e os ratos aparentemente saudáveis desenvolveram os mesmos comportamentos anormais.
Os ratos eram como pessoas geneticamente em risco. Ou seja, eram predispostos a terem comportamentos anormais como se arranhar ou puxar seus pêlos. A dieta trouxe essas predisposições à tona.
Os pesquisadores também estudaram a tricotilomania, um distúrbio do controle de impulsos, no qual as pessoas puxam seus cabelos. O distúrbio, que desproporcionalmente ocorre em mulheres, deve afetar entre 2 e 4% da população.
Os pesquisadores descobriram que os ratos que puxam seus pêlos têm baixos níveis de atividade da serotonina no cérebro. Esse neurotransmissor é conhecido por afetar o humor e os impulsos. A hipótese dos cientistas é de que o aumento da atividade da serotonina no cérebro pode curar ou reduzir esse comportamento, e possivelmente a tricotilomania.
A serotonina é produzida no cérebro a partir do aminoácido triptofano, consumido em certos alimentos. O problema é que o triptofano muitas vezes não passa pela barreira entre o sangue e o cérebro, porque outros aminoácidos podem passar mais facilmente e bloquear a entrada.
Os pesquisadores então modificaram a dieta dos ratos para aumentar os hidratos de carbono simples, ou açúcares, e o triptofano. Os açúcares provocam uma liberação de insulina, que faz com que os músculos absorvam os outros aminoácidos, dando uma chance para o triptofano passar para o cérebro.
Usando oito vezes mais açúcar e quatro vezes mais triptofano, os pesquisadores observaram a duplicação da atividade da serotonina no cérebro. Mas os ratos não melhoraram, e sim pioraram.
Em um segundo experimento, os ratos foram divididos em três grupos: aqueles que estavam aparentemente normais, outros que tinham alguma perda de pêlo devido ao comportamento e um grupo que tinha grave queda de pêlo. Todos os ratos pioraram.
Três quartos dos ratos saudáveis desenvolveram um dos comportamentos após 12 semanas da nova dieta. Alguns dos ratos desenvolveram dermatite ulcerada, uma doença de pele fatal. Os pesquisadores observaram que só os ratos que se arranhavam contraíram a doença.
Isso levanta a questão: e se a dermatite ulcerada é um transtorno comportamental comum, e não uma doença de pele? O estudo mostra evidências de que pode ser um transtorno comportamental.
Quando retirados da dieta, os comportamentos negativos pararam de se desenvolver nos ratos. Quando os ratos do grupo de controle foram transferidos para a nova dieta, começaram a se coçar e puxar os pêlos.
O estudo questiona como a dieta pode afetar outras doenças comportamentais ou mentais, como autismo, síndrome de Tourette e tricotilomania. E se o aumento de açúcares simples na dieta americana está contribuindo para o aumento destas doenças?
Até agora, uma ligação entre a dieta e o aparecimento de transtornos mentais não tinha sido mostrada. A pesquisa faz com que seja uma possibilidade. O próximo passo é refinar os experimentos para imitar melhor os hábitos alimentares humanos, incluindo a quantidade de triptofano que as pessoas consomem
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