quarta-feira, 6 de julho de 2011

África

Estupro: silêncio e impunidade persistem na África

Eric Kouamo, Douala
Data de publicação : 6 Julho 2011 - 11:22am
Por RNW Africa Desk (Foto: AFP)
Cerca de 500 mil casos de estupro são registrados por ano em Camarões. Como em diversos países no continente africano, as vítimas são forçadas a ficar em silêncio, enquanto os perpetradores saem ilesos devido à falta de provas.
“Fui estuprada pelo namorado da minha amiga. Um dia eu fui na casa dela quando ela estava morando com ele. Quando cheguei lá minha amiga não estava e ele me recebeu. De repente começou a chover e ele pediu para que eu me despisse”.
Uma lágrima aparece em seu rosto, ela continua: “Eu resisti...” após um suspiro ela continua... “então ele me beijou, tirou minha roupa e me estuprou. Após o ataque, ele molhou minhas roupas em um balde com água e me colocou pra fora da casa. Tive que cobrir meu corpo com um pedaço de pano para poder ir pra casa.”
Com voz trêmula e com pausas para as lágrimas, Julie Njissa descreve o pesadelo da vida dela. Só agora, após seis anos, ela fala sobre o ocorrido. Ela tem 24 anos e trabalha como vendedora em uma empresa de laticínios em Douala.
Silêncio
“Eu nunca falei sobre isso antes porque tinha medo de ser ridicularizada. Tinha medo da reação dos meus pais porque eu tinha 17 anos”. Ainda que vários anos tenham se passado, a tristeza de Julie não passou. Foi apenas durante uma conferência reunindo vítimas de estupro em Camarões que ela encontrou coragem para contar sua história pela primeira vez.
Na África, as vítimas de estupro não falam sobre isso. Elas sofrem em silêncio por medo da estigmatização, explica o sociólogo François Guebou.
“Famílias preferem um arranjo amigável para preservar a imagem. Trazer o problema ao domínio público é confundido, no contexto africano, com uma tentativa de atacar a reputação da família”, explica.
Estatísticas
Aproximadamente 500 mil casos de estupro são registrados anualmente em Camarões. A RENATA (Rede Nacional de Associação de Tias) reúne algumas associações envolvidas na luta contra o estupro em Camarões. O relatório mais recente sugere que em quase 8% dos casos as vítimas são infectadas com doenças sexualmente transmissíveis.
Entre os perpetradores de estupros, estima-se que 1% sejam padres, 4% professores e 9% trabalham nas forças armadas.
Impunidade
De acordo com Apollinaire Fotso, advogado especializado em casos de estupro, a maioria dos criminosos é liberada durante o procedimento legal devido à falta de evidências. “Os fatos se desenrolam em extrema privacidade e as vítimas mantêm o silêncio por medo de represálias. Isso torna difícil juntar alguns laudos médicos. Além disso, grandes quantias de dinheiro estão sendo usadas para contestar a justiça, condenando as vítimas ao triste silêncio e injustiça”.

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