domingo, 8 de janeiro de 2012

Holandeses na batalha contra as enchentes

Holandeses na batalha contra as enchentes

Data de publicação : 6 Janeiro 2012 - 1:12pm
Por Robert Chesal
                                                                      (Foto: RC)
A séria ameaça de enchentes está testando a determinação do povo e das autoridades civis holandesas. A Holanda está diante de um cenário clássico de desastre: chuvas fortes enchendo os rios e canais do interior, combinadas com tempestades a noroeste no Mar do Norte. É o tipo de batalha épica contra as águas que marcou a história do país e definiu sua auto-imagem.
O problema está se espalhando pelas áreas costeiras, ao longo das margens dos rios Mosa no sul, e ao redor da cidade de Groningen ao norte. Pôlderes e campos baixos nas regiões rurais, muitas vezes abaixo do nível do mar, estão ameaçados pelo transbordamento e possível quebra dos diques ao redor. Centenas de propriedades rurais e casas estão ameaçadas de inundação, o que afetaria milhares de pessoas e animais.

Cerca de 800 pessoas receberam ordem para deixar suas casas nas primeiras horas da manhã desta sexta-feira em quatro pequenas cidades ao longo do Canal Eems, onde o exército e a polícia ajudam na evacuação. A situação em torno do vilarejo de Tolbert também continua crítica. Os moradores foram aconselhados a deixar suas casas na quinta-feira, mas nem todos o fizeram.
Embaixo d'água
Arike Tomson é chefe do departamento regional de águas, que está ajudando a coordenar os esforços para lidar com a situação naquela área.
“Recomendamos que os moradores deixassem suas casas porque não podíamos garantir sua segurança”, explica Tomson. “Vimos os níveis d’água subindo e que a condição do dique não era segura, para dizer o mínimo. Sabemos que o pôlder é suscetível a sérias inundações, de até um metro de profundidade. Se aquele dique arrebentar, as pessoas realmente vão ficar embaixo d’água. Então não tivemos outra escolha a não ser aconselhá-las a deixar a área.”
Enquanto Tomson pede mais informações em seu centro de comando improvisado num caminhão de resgate dos bombeiros, jovens locais se reúnem do lado de fora. Eles desafiam os fortes ventos para ver o crescente número de policiais, paramédicos, bombeiros e jornalistas que chegam ao local.
Normalmente, engenheiros aliviam rios e canais muito cheios abrindo comportas e permitindo que a água flua para canais mais baixos e, eventualmente, para o Mar Frísio, na ponta nordeste da Holanda. Mas os ventos contrários vindos do norte e a maré de tempestade que os acompanha impedem esta opção, de maneira que o serviço nacional de águas agora tem que procurar conter a água de alguma outra forma.
Prevenção
Como Tomson explica, ela e seu time dependem de relatórios de equipes que sobrevoam o local de helicóptero e de funcionários que estão continuamente medindo os níveis da água nos pôlderes e avaliando as condições dos diques. Baseado nestes relatórios, o serviço nacional de águas abre represas onde for necessário para prevenir o rompimento ou transbordamento de um dique. Acostumada a este tipo de batalha contra os elementos, a Holanda é líder mundial em manejo de águas.
O prefeito da cidade de Groningen, Peter Rehwinkel, está supervisionando as operações numa área mais ampla e tem tido pouco tempo para descansar nas últimas 24 horas. Depois de ouvir os relatórios dos bombeiros e equipes de resgate locais, da polícia e do exército holandês, do serviço nacional de águas e de engenheiros civis, ele atende os jornalistas.
O prefeito elogia a disposição demonstrada por cidadãos comuns, produtores rurais e empresários da região para ajudar as pessoas afetadas no pôlder. “A boa vizinhança é uma atitude tradicional aqui”, ele diz.
Crise
Paradoxalmente, outra atitude tradicional nesta região é a auto-suficiência. Numa visita escoltada pela polícia até o limite da área afetada em Tolbert, vemos uma família sentada à mesa para o almoço, olhando com curiosidade para nós, jornalistas. Esta é uma das famílias que se recusou a deixar a área, apesar da ameaça de inundação. Numa pequena ponte, com a água batendo em seus pés, um agricultor diz que não vai abandonar sua terra, nem mesmo por um ou dois dias.
Arike Tomson, do serviço regional de águas, compreende o sentimento dessas pessoas, mas ressalta que seu trabalho é proteger todos que precisem de ajuda. Mesmo os que decidiram ficar. A crise, segundo ela, une as pessoas.
“O coração bate mais rápido em momentos assim. É por isso que fazemos este trabalho. Tentamos prevenir a enchente. Em momentos cruciais é preciso reunir todo o conhecimento e expertise que está a nossa disposição. Muitos funcionários ainda estão de férias nesta época, mas eles têm telefonado de todas as partes para dizer que estão disponíveis e que, se precisarmos, estarão aqui.”

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