segunda-feira, 31 de outubro de 2011

TURQUIA

Terremoto na Turquia desperta solidariedade e divisões
Esforços do governo para ajudar vítimas do desastre reacendem conflitos entre turcos e curdos
31/10/2011
Terremoto na Turquia deixou mais de 450 mortos
Às vezes é necessária uma tragédia. O terremoto que sacudiu a província de Van – onde a maioria da população é de origem curda –, na Turquia, deixando um número de mortos que já chega a 481, deu origem a uma enorme demonstração de solidariedade. Milhões de turcos realizaram doações às campanhas de ajuda, e comboios de voluntários partiram de Istambul e seguiram por milhares de quilômetros para ajudar a desenterrar possíveis sobreviventes na pobre e montanhosa província na fronteira com o Irã. Mustafa Sarigul, prefeito de um aristocrático distrito de Istambul, ofereceu moradia e educação gratuitas para mil crianças que ficaram desamparadas após o terremoto.
A resposta do governo ao desastre foi rápida e eficiente. Ainda assim, o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, reconheceu que uma escassez de tendas deixou milhares de vítimas vulneráveis à chuva e ao frio. Após recusar ofertas internacionais de ajuda, a Turquia anunciou que aceitará o apoio de todos, até mesmo de seus recentes desafetos, os israelenses.
Mas o tom conciliatório está se tornando mais azedo. O AK, partido do governo, e o BDP, um partido pró-curdo acusaram um ao outro de usar a tragédia para benefícios políticos. O prefeito da cidade de Van, do BDP, acusou o governador da província (apontado pelo Estado) de rejeitar seus pedidos de coordenar ações de resgate. “Aqueles que jogam coquetéis molotov em nossos policiais despareceram no momento do desastre”, respondeu Erdogan.
Van é uma base do proibido Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), um grupo armado que luta por autonomia desde 1984. o BDP é abertamente simpático à causa dos rebeldes, e cerca de 4 mil membros do partido, incluindo 14 prefeitos eleitos, foram presos desde 2009, a maioria por alegações de pertencerem ao PKK.
O conflito do PKK se intensificou nos últimos meses, e o grupo matou 24 soldados em um ataque na semana passada, na província de Hariri, ao sul de Van. Dezenas de policiais e civis foram assassinados, e o governo retaliou com uma série de ataques aéreos contra bases do PKK em áreas controladas por curdos no norte do Iraque, e uma incursão de mil soldados no território, algo que não acontecia desde 2008. O secretário de Estado, Necdet Ozel, afirma que 270 rebeldes já morreram desde 17 de agosto, mas as dúvidas sobre o desempenho do exército são cada vez maiores.
Desde 2007, os Estados Unidos têm companhado a movimentação do PKK dentro do Iraque, e a Turquia quer mais de seus amigos norte=-americanos, incluindo helicópteros de ataque Cobra e aviões-robôs armados Reaper. Mas as recentes ameaças de Erdogan contra Israel preocupam o Congresso, que precisa aprovar a ajuda militar. “Eles querem ter certeza de que esse equipamento não será usado para ajudar o Hamas”, diz um diplomata ocidental.
O desenvolvimento militar marca uma mudança nos esforços iniciais do governo, de combater o problema dos curdos por meio de reformas e reuniões secretas com militantes do PKK, incluindo o líder aprisionado do grupo, Abdullah Ocalan, e isso ajuda os nacionalistas militantes turcos. Após os ataques de Hariri, escritórios do BDP em todo o país foram apedrejados. Em Elazig, uma cidade no leste do país, um bairro curdo foi atacado, e muitos encararam o terremoto como uma “punição divina” aos curdos. Mas Erdogan, em um encontro do AK, se referiu àqueles que desejam semear a discórdia étnica como “malditos”.
Enquanto o primeiro-ministro discursava, aviões de guerra turcos continuavam a bombardear bases do PKK no Iraque. No dia anterior, em Van, rebeldes atacaram um veículo militar, ferindo quatro soldados turcos. Em meio à violência, membros do AK se encontraram com Selahattin Demirtas, líder do BDP, para discutir a nova constituição, que será apresentada por Erdogan. A paz ainda pode estar ao alcance do governo.

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