Atualizado em 30 de
janeiro, 2013 - 07:32 (Brasília) 09:32 GMT
Desde as primeiras horas após o incêndio que matou 235 pessoas
em uma boate de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, psicólogos vêm fazendo um
trabalho de acompanhamento das famílias e amigos das vítimas.
Mas não são apenas aqueles diretamente atingidos pelo desastre que necessitam
de assistência. Nos últimos dias, pessoas que de alguma forma tiveram contato
com a tragédia na cidade, como taxistas e coveiros, também procuraram o serviço
de auxílio do núcleo psicológico de emergência criado após o incidente."Nem todas as pessoas precisam de atendimento de saúde mental. Algumas têm suas redes sociais, suas redes psíquicas, redes religiosas que resolvem. Quase 70% das pessoas poderão resolver isso em suas redes afetivas", afirmou Maria de Fátima Fischer, psicóloga e representante do Estado do Rio Grande do Sul no núcleo, à BBC Brasil.
"Agora, pouco mais de 20% das pessoas envolvidas diretamente, indiretamente ou mesmo que não tiveram relação com o evento, precisarão de algum cuidado. Já entre 1% e 3% das pessoas podem desenvolver casos graves de saúde mental", acrescentou a psicóloga.
Ela conta que, além de atender aos parentes e amigos das vítimas, o programa vem auxiliando bombeiros e policiais que atuaram no resgate, médicos, coveiros responsáveis pelos enterros e até taxistas.
"Eles estão fazendo o trabalho deles e têm que aguentar essa barra. Eles têm que ouvir muitas coisas, alguns perderam parentes", disse Maria de Fátima, que afirmou que o grupo está em contato com associações de taxistas para oferecer auxílio. Professores universitários que perderam seus alunos também serão orientados pelo programa.
Luto
A equipe de atendimento vai funcionar 24 horas por dia durante todo o primeiro mês após o desastre, mas os trabalhos devem continuar por pelo menos seis meses. Segundo a psicóloga, há várias formas de luto após uma tragédia como a do último domingo."É esperado que as pessoas gritem, briguem, enlouqueçam nessa hora. As pessoas têm que não dormir ou não comer por um tempo até que a coisa possa ser melhor resolvida", diz.
Segundo ela, no entanto, outras pessoas atingidas podem desenvolver estados de luto que podem durar anos e que envolvem também uma depressão física, com distúrbios alimentares e de sono.
"Um mecanismo importante para outras é negar a morte, mas isso fica represado e vai aparecer em algum momento."
Para lidar com estas situações, as equipes desenvolveram estratégias para auxiliar familiares e amigos durante os enterros e velórios.
"É importante para a maioria das pessoas que elas vejam o corpo para que possam concretizar que aquilo aconteceu. Então, houve famílias que chegaram quando os caixões já estavam fechados, e nós abrimos. Algumas pessoas precisam viver isso, se não parece que aquilo não aconteceu."
A psicóloga afirma ainda que é necessário criar eventos na cidade que, de alguma forma, se coloquem "contrários" à tragédia. Ela cita como exemplo a marcha organizada na última segunda-feira em que milhares de pessoas vestidas de branco carregaram flores e cartazes com fotos das vítimas do incêndio.
"É uma resposta de solidariedade contra a solidão, as pessoas começam a sentir que a dor é compartilhada. Os símbolos de luto nas lojas e casas também ajudam neste sentido."
FONTE
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