segunda-feira, 8 de abril de 2013

Historiadora ajuda órfãos do Holocausto a encontrar identidade

Historiadora ajuda órfãos do Holocausto a encontrar identidade
Atualizado em 8 de abril, 2013 - 05:57 (Brasília) 08:57 GMT
Encontro de sobreviventes do Holocausto com freiras que os protegeram
Israel celebra nesta segunda o Dia do Holocausto; acima, sobreviventes do extermínio com freiras que os protegeram
Milhares de sobreviventes do Holocausto que, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), eram crianças judias que sobreviveram escondidas em casas polonesas ou em conventos tornaram-se adultos que até hoje não conhecem sua verdadeira identidade.
De acordo com a historiadora israelense Lea Balint, uma das consequências dolorosas do extermínio em massa dos judeus pelo regime nazista é o problema das "crianças sem identidade".
Balint é sobrevivente do genocídio, marcado nesta segunda-feira, o Dia do Holocausto, em Israel, a 68 anos do fim da Segunda Guerra Mundial.
Ela dedicou os últimos 22 anos a ajudar essas crianças - hoje já pessoas idosas - a encontrar suas raízes.
"Tudo começou em 1991, quando um homem, sobrevivente do Holocausto, me disse não saber quem era, nem quem eram seus pais", disse a historiadora polonesa à BBC Brasil.
"Ele tinha cerca de 50 anos e viveu a vida inteira sofrendo por não conhecer sua própria história. Naquele momento, decidi começar a pesquisar essa questão."
Balint criou o Arquivo das Crianças Sem Identidade, que recebeu o apoio do Museu dos Combatentes dos Guetos, e começou a colher informações sobre crianças judias nascidas na Polônia e que ficaram órfãs na Segunda Guerra.
"Naquele período sombrio, houve muitas tragédias. Entre os 6 milhões de judeus exterminados pelos nazistas, houve 1,5 milhão de crianças, e muitas mães fizeram tudo para salvar seus filhos", disse.

Bebê dentro da mala

Visitante no Museu do Holocausto, em Jerusalém (Reuters)
Museu do Holocausto, em Jerusalém; extermínio deixou muitas crianças órfãs
Milhares de crianças judias foram entregues a conventos ou a famílias polonesas quando seus pais foram presos e levados aos campos de concentração.
Houve casos em que mães simplesmente deixaram bebês junto às portas de vizinhas polonesas, com um bilhete pedindo que cuidassem de seus filhos.
"Um dos casos mais dramáticos que acompanhei foi o de Richard Berkovitz, um bebê que foi jogado dentro de uma mala, pela janela do trem que transportava seus pais para um campo de concentração", contou Balint.
"Foi um gesto de desespero extremo por parte dos pais, que sabiam que iam morrer e tentaram dar uma chance de vida à criança. Felizmente, o bebê foi encontrado por poloneses que cuidaram dele até o fim da guerra e depois o entregaram a um orfanato judaico."
Richard Berkovitz é uma das 180 pessoas que recuperaram sua identidade graças ao trabalho de Lea Balint.
Durante mais de 20 anos, Balint fez inúmeras viagens à Polônia, para consultar arquivos e entrevistar pessoas que após a guerra trabalharam em orfanatos e organizações humanitárias e acolheram as crianças órfãs.
A historiadora também visitou conventos que esconderam crianças judias e fez entrevistas longas com os sobreviventes, em busca de pistas para encontrar a identidade daqueles que não tinham ideia sobre seu passado.
"Durante as conversas, muitas vezes, surgiram lembranças que nem os próprios sobreviventes sabiam que tinham, pois durante a vida inteira recalcaram as memórias dolorosas da guerra", disse.

Identificação

Lea Balint
Lea Balint criou arquivo para identificar crianças que perderam sua identidade na guerra
Cruzando informações de documentos que encontrou e de testemunhos que ouviu, ela conseguiu levantar dados que possibilitaram a identificação de parte das crianças sem identidade.
Em vários casos, depois de saberem seu nome e data de nascimento, os sobreviventes conseguiram encontrar parentes que não sabiam que estavam vivos.
"Quando comecei a divulgar a existência do nosso arquivo recebi milhares de telefonemas, tanto de pessoas em Israel como no exterior, procurando saber quem eram seus pais, onde e quando tinham nascido e o que aconteceu com sua família", disse.
No entanto, segundo ela, à medida que o tempo passa, o número de pessoas que a procuram diminui.
"Muitos sobreviventes do Holocausto já morreram e outros estão muito idosos e não têm forças para abrir as feridas do passado", afirmou.
Calcula-se que haja 200 mil sobreviventes judeus do genocídio em Israel e um número semelhante ao redor do mundo.
FONTE

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