segunda-feira, 25 de junho de 2012

“Eu faço chover”

“Eu faço chover”

O engenheiro Takeshi Imai criou um método inovador para descarregar as nuvens sem aditivos químicos

TAKESHI IMAI, EM DEPOIMENTO A FLÁVIA YURI


TAKESHI IMAI Engenheiro. Inventor  do método de precipitação de chuva com  água potável. Ganhou medalha de ouro no Simpósio de Água de Cannes, na França  (Foto: Ênio Cesar/Ed. Globo)
"Em 1990, eu fabricava pulverizadores e motosserras para a produção agrícola. Um dia, levei 20 equipamentos para teste de potenciais clientes no Espírito Santo. Durante duas horas, minhas máquinas derrubaram árvores. A queda de um jacarandá de 250 anos me fez parar. Até hoje não esqueço o barulho daquela árvore tombando. Foi uma visão impressionante. A partir daí, decidi que minhas invenções deveriam servir à natureza e não destruí-la. Não queria continuar a produzir motosserras para desmatar nem jogar veneno para poluir. Soube, então, de uma técni-ca para fazer chover com uma substância química, o iodeto de prata. Um avião atravessa as nuvens geladas e bombardeia a solução química nelas, para fazer com que as gotículas d’água se precipitem. Mas o iodeto de prata é um metal pesado. Fiquei imaginando uma maneira limpa de fazer isso.

Fabricava pulverizadores havia quase 20 anos. Era um gotólogo, especialista em gotas. Para precipitar nuvens sem o uso de aditivo, a saída seria usar água, com gotas de tamanho controlado. Essas gotas servem como estímulo para que as gotículas da nuvem se precipitem. A água que levamos num avião é capaz de provocar uma chuva com um volume várias vezes maior.
Aprimorei os equipamentos até chegar ao formato de gota que faria as nuvens se precipitarem. Desenvolvi um método para estimular uma nuvem a crescer e induzir sua precipitação com um pouco de água potável. Com essa tecnologia, detectamos, por radar, o tipo de nuvem em formação. Quando ela está no ponto bom para ser estimu-lada, subimos com o avião levando água potável e jogamos as gotas para que a nuvem se precipite. Chegamos a um processo totalmente limpo, que não gera nenhum inconveniente ao meio ambiente. Outra vantagem é que conseguimos trabalhar com diferentes tipos de nuvens.
Registrei as patentes. Mas não tinha dinheiro para colocar o projeto em prática. A Sabesp, empresa de água de São Paulo, precisava de mais volume em seus mananciais. Eles concordaram em investir em pesquisa experimental para ver se a tecnologia funcionaria. Fizemos quatro contratos experimentais e fomos evoluindo juntos. Em 2004, o Brasil voltou a sofrer com escassez de chuvas. Com o risco de novo apagão, fechamos contrato para produzir chuvas sobre as bacias do Alto Tietê e da Cantareira. Esta última chegou a ter apenas 2% de água em seus reservatórios. Elas são responsáveis pelo abastecimento de água para 20 milhões de habitantes da região metropolitana de São Paulo. Há sete anos, ajudamos a abastecê-las.
No ano passado, fomos convidados pela ONU a apresentar nosso método na convenção sobre desertificação. Fizemos chuva na Chapada Diamantina, na Bahia, para minimizar os estragos da seca. Criamos também um método de revegetação, o Árvore Flecha. Ele é um sistema de plantio em escala de centenas de árvores com flechas de bambu atiradas do céu. Se temos cabeça para destruir em larga escala, precisamos ter também para recuperar em larga escala."

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