terça-feira, 13 de março de 2012

Grão-de-bico espanta a depressão
A leguminosa está lotada de triptofano, um aminoácido essencial para a produção da serotonina a substância que traz sensações agradáveis. E esse é só um dos seus atributos por Cida de Oliveira
design Thiago Lyra
fotos Gustavo Arrais
A casca do grão-de-bico é rica em fibras. No entanto, por concentrar também substâncias que dificultam a absorção de nutrientes, a maioria das receitas pede a semente descascada
Vamos direto ao ponto: o grão-de-bico não ocupa lugar de destaque no ranking das leguminosas mais populares. Questão de gosto ou questão de preço? É difícil dizer, mas a verdade é que essa espécie custa pelo menos cinco vezes mais do que outro membro da família, o feijão, que também já não é tão assíduo na mesa do brasileiro. A relação custo benefício, porém, vale o investimento. Quem vive meio tristonho sem motivo aparente na certa mudaria de humor se botasse esse alimento no prato com freqüência.
É provável até que nossos ancestrais soubessem desse efeito. Ou então teriam desistido do cultivo da planta, extremamente sensível às condições de clima e solo e também ao ataque de pragas. Hoje quem empresta sua chancela à leguminosa é a prestigiada revista científica internacional Journal of Archaeological Science, que divulgou recentemente trabalho de pesquisadores da Universidade Hebraica de Jerusalém e da Universidade de Haifa, ambas em Israel, exaltando suas propriedades.
Por aqui nossos cientistas também dão seu aval ao grão-de-bico, boa fonte de ferro, carboidratos e proteínas. Leonardo Boiteux, estudioso do centro nacional de pesquisa de hortaliças da Embrapa, empresa brasileira dedicada ao estudo e ao desenvolvimento agropecuário, atribui o alto teor protéico a uma combinação de aminoácidos. Entre eles a estrela é o triptofano, que aparece em grandes quantidades. Essa substância é usada pelo organismo para a produção de um neurotransmissor chamado serotonina, responsável pela ativação dos centros cerebrais que dão sensação de bem-estar, satisfação e confiança.
"Boas doses desse composto resultam ainda em diversos efeitos fisiológicos, como maiores taxas de ovulação e melhora no padrão de desenvolvimento das crianças", diz o pesquisador. A nutricionista Andréa Penatti Ferreira, que recentemente estudou as alterações químicas do grão-de-bico durante o cozimento para sua dissertação de mestrado na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP, em Piracicaba, acrescenta que a disponibilidade de ferro é outro diferencial da leguminosa.
Na tabela os valores desse mineral no grão-de-bico aparecem ligeiramente inferiores aos de seus parentes. O mesmo acontece comos teores de proteína. Contraditório? "Não", responde Maria Esther Fonseca, também pesquisadora da Embrapa. "O ferro disponível nessa leguminosa é mais bem aproveitado pelo organismo. Quanto às proteínas, a qualidade delas é muito superior à das demais leguminosas, sem contar que são totalmente digeridas, o que não acontece com suas congêneres", explica a especialista. E as vantagens do grão-de-bico não param por aí.
Ele acumula fitoestrógenos e por isso já começa a ser usado em terapias de reposição hormonal na menopausa."Essas substâncias, também chamadas de hormônios vegetais, têm se mostrado capazes de prevenir a osteoporose e problemas cardiovasculares, embora não tanto quanto aquelas extraídas da soja", diz Maria Esther. Se depender dos cientistas da Embrapa, o grão-de-bico ficará ainda mais nutritivo.
Eles buscam o aperfeiçoamento genético para obter novas variedades adaptáveis a várias regiões. "Pretendemos também aumentar os teores de triptofano", anuncia o pesquisador Warley Nascimento. "Assim quem sabe o astral do brasileiro até melhore." E, para derrubar de vez a resistência de quem torce o nariz para a leguminosa, nada como uma especialidade da cozinha espanhola, o puchero, mas em versão light para tornar o prato ainda mais saudável.
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Grão-de-bico é fonte de bem-estar físico e emocional
Ele acumula o triptofano, um aminoácido precursor da serotonina que é o neurotransmissor que dá o bem-estar para o ser humano.
ISABELA ASSUMPÇÃO Brasília, DF
Tomates bem vermelhos, pimentões ainda mais coloridos e mais nutritivos, grãos preciosos: um verdadeiro tesouro cultivado em estufas. Será possível melhorar o que a natureza nos oferece, com uma pitada de ciência?
A partir do estudo das hortaliças e conhecendo cada elemento que elas contêm, o pessoal da Embrapa realiza suas pesquisas. O objetivo é melhorar geneticamente as hortaliças e fazer com que elas sejam cada vez mais fontes eficientes de bem estar físico e até emocional. O que se estuda no laboratório e no campo vai melhorar o que todos nós comemos em casa.
Em uma horta, os agrônomos Leonardo Boiteux e Maria Esther Fonseca, da Embrapa Hortaliças, colhem os resultados de suas pesquisas, como ervilhas, lentilhas e grão-de-bico.
Provavelmente pouca gente conhece uma plantação de grão-de-bico. Leonardo explica que ela demora em torno de 100 dias para chegar à fase dos grãos. “É uma característica das leguminosas, em especial do grão-de-bico, acumular triptofano, que é um aminoácido que é precursor da serotonina que é o neurotransmissor que dá o bem-estar para o ser humano”, o pesquisador da Embrapa Hortaliças.
“O tipo de lipídios que tem no grão-de-bico, ômega 3 e 6, evita doenças circulatórias e coronárias. A proteína é rica em triptofano, que favorece o bem-estar. É precursor da serotonina, que está relacionada com o bem-estar. Até o carboidrato do grão-de-bico é especial, porque ele tem um índice glicêmico baixo, que é bom para pessoas com diabetes e mesmo para evitar a chegar o diabetes. O valor calórico dele é baixo”, aponta a pesquisadora Maria Esther Fonseca.
“É uma jóia e tem uma variabilidade genética para melhorar ainda mais”, ressalta o pesquisador da Embrapa Hortaliças.
Para isso, Leonardo e Esther estudam vários tipos de grãos.
“O objetivo nesse projeto é explorar os diversos tipos de grãos-de-bico, para combinar características de produtividade e altos teores de ômega 3, 6 e triptofano. A gente faz cruzamentos, e selecionamos os filhos mais produtivos para as características de interesse”, explica Leonardo.
É assim também com os tomates e pimentões. Com um tomatinho selvagem, por exemplo, eles estão testando um super tomate, com ainda mais licopeno que é um poderoso antioxidante. Quanto mais vermelho, mais licopeno.
Os pimentões coloridos já estão nos mercados e foram testados em um laboratório da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), em Piracicaba.
“Houve uma melhora boa em componentes. O vermelho e o amarelo e depois o verde, eles tiveram uma concentração muito grande de compostos bioativos e de compostos com um papel antioxidante, que é uma coisa boa”, diz a professora de nutrição Jocelem Salgado, da USP. “Mas o que a gente percebeu é o seguinte: nesses pimentões que nós tivemos essa melhora, nós tivemos detrimento em fibras e em proteínas”.
“Acho muito importante que os estudos continuem. O desafio na nossa área é esse: saber o quanto, como recomendar e o efeito seguro. E na área de melhoramento é concentrar o composto, sem reduzir outro componente, que provavelmente fará falta para outra resolução de outro problema de saúde”, ressalta Jocelem.
E agora, a melhor fase da pesquisa: a pasta de grão-de-bico, chamado homus. Em saladas, ou em pasta, o grão-de-bico é muito gostoso. Na família da comerciante Tahsine Hammoud, o grão-de-bico já é tradição.
A ajudante de cozinha Luciana Marques é do Ceará e ela viveu lá durante 23 anos sem nunca ter visto grão-de-bico. Não sabia nem o que era. Só veio conhecer em São Paulo. “Só vim conhecer aqui nesse emprego que eu já estou há mais de um ano e consegui descobrir o segredo do grão-de-bico, como que a gente faz o homus”,conta.
Ela mostra como é que faz a pasta de grão-de-bico, tradicional da cozinha árabe. “Primeiramente, a gente coloca o limão, um pouco de alho, um pouco de sal. Tudo a olho, não tem muita medida”, explica a ajudante de cozinha.
Depois que a Luciana teve o maior trabalho e fez tudo direitinho, Isabela Assumpção entra para fazer o melhor pedaço: experimentar a pasta. “É dos deuses. Eu podia passar minha vida inteira comendo isso. Muito bom”,

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