Seu azul é meu vermelho: as pessoas não veem as mesmas cores
Esse debate é antigo entre filósofos amadores de plantão: será que você vê a
mesma cor que eu?
Não estamos falando de daltonismo – uma deficiência na visão que dificulta a
percepção de uma ou de todas as cores -, mas de diferenças entre todas as
pessoas: por exemplo, quem garante que, apesar de nós dois sabermos que um
morango é vermelho porque aprendemos assim, não estamos vendo o mesmo morango
vermelho de forma diferente?
Como ainda não descobrimos um jeito de ver as coisas com os olhos dos outros,
não sabemos a resposta para isso. Bom, não sabíamos. Recentemente, o pesquisador
de visão de cores Jay Neitz, da Universidade de Washington (EUA), publicou um
estudo no periódico Nature que afirma que as pessoas não veem as mesmas cores
quando olham para objetos semelhantes.
A pesquisa, realizada com macacos, mostrou que apesar do consenso geral de
que certas coisas são de certa cor, algumas pessoas podem perceber a cor
vermelha como o azul de outra. Como assim?
A pesquisa
Em 2009, os cientistas usaram terapia genética para recuperar a visão de
cores de macacos adultos incapazes de distinguir entre tons de vermelho e verde
desde o nascimento (a espécie mais comum de daltonismo).
O que eles fizeram foi injetar um vírus nos olhos dos macacos, que lhes
permitiam ver o vermelho, bem como o verde e o amarelo.
Quatro meses mais tarde, os animais finalmente podiam ver em quatro cores,
pela primeira vez. Surpreendentemente, eles conseguiram dar sentido à nova
informação, apesar de seus cérebros não serem geneticamente programados para
responder a sinais vermelhos.
Esses resultados, inclusive, sugeriram que a mesma terapia poderia ter
sucesso com humanos. Como os macacos foram injetados com genes humanos, que
também poderiam ser injetados em nós, o tratamento poderia curar o daltonismo,
que atinge aproximadamente 10% dos homens e 1% das mulheres.
Mais além, a terapia poderia funcionar também para restaurar a visão em
milhões de pessoas que sofrem de degeneração macular relacionada à idade, a
causa mais comum de cegueira em idosos.
No entanto, o mais curioso dessa pesquisa veio depois: intrigados para saber
o que os macacos estavam vendo, os cientistas resolveram testá-los para entender
o que exatamente eles passaram a enxergar.
A conclusão foi surpreendente: os pesquisadores sugeriram que nossa percepção
de cor é moldada pelo mundo exterior, mas não segue nenhum padrão
pré-determinado. Isso significa que não há percepção pré-determinada atribuída a
cada comprimento de onda.
Segundo a teoria de Young-Helmholtz, a retina possui três espécies de células
sensíveis (cones), cada uma responsável pela percepção de uma dada região do
espectro luminoso: o vermelho, o verde e o azul, cores primárias que originam
todas as outras.
Os estímulos imediatos da percepção visual são os feixes luminosos que,
depois de passarem pela pupila, incidem na retina, se convertem em sinais
elétricos e são interpretados pelo cérebro.
A cor que você vê depende, então, de quanto é excitada cada espécie de cone.
Quando você olha para a luz vermelha, somente os cones de suas retinas sensíveis
ao vermelho enviam mensagens para o cérebro, e assim por diante.
Essa teoria tem sido debatida ao longo do tempo. Com o novo estudo de Neitz,
cientistas agora acreditam que, embora os cérebros das pessoas tenham uma
tendência a se comportar da mesma maneira, os neurônios não são configurados
para responder a cor de uma forma padrão.
Além disso, outra pesquisa demonstrou que diferentes percepções de cores não
mudam a nossa resposta emocional aos mesmos tons. Por exemplo, as reações das
pessoas a cor azul (não importa se a estejam vendo como vermelha) tende a ter um
efeito calmante devido aos comprimentos de onda mais curtos de luz que atingem a
retina. Já os comprimentos de onda mais longos, como do amarelo, do laranja ou
do vermelho, podem tornar-nos mais alerta.
“Eu diria que as experiências recentes nos levam para a ideia de que nós
todos não vemos as mesmas cores”, concluiu Neitz. Outro cientista da visão de
cores, Joseph Carroll, do Colégio Médico de Wisconsin (EUA), confirma: “Penso
que podemos dizer com certeza que as pessoas não veem as mesmas cores”.[DailyMail, Terra, PortalSãoFrancisco]
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