Partícula de Deus encontrada? Cientistas podem anunciar descoberta do bóson de Higgs esta quarta
O CERN (Laboratório Europeu para Física de Partículas), que abriga o famoso
Grande Colisor de Hádrons (Large Hadron Collider – LHC), acelerador de
partículas que fica na Suíça, convidou cinco grandes físicos teóricos –
incluindo Peter Higgs, da Universidade de Edimburgo (Escócia), professor de
física que deu nome a partícula de Deus – para uma conferência na próxima
quarta-feira (4 de julho).
Isso gerou especulações de que o bóson de Higgs finalmente foi encontrado.
Parece coisa certa que os cientistas de duas missões independentes – CMS e ATLAS
– desenhadas para provar a existência da partícula vão anunciar que ela foi
finalmente “descoberta”.
O bóson de Higgs
A partícula de Deus foi proposta pela primeira vez por Peter Higgs em 1964,
48 anos atrás.
O bóson de Higgs, como foi nomeado, é tido como a chave para entender todo o
universo. Isso porque ela é, supostamente, a partícula que dá a todas as outras
sua massa – por exemplo, aos átomos, que formam toda a matéria do mundo,
inclusive nós.
Isso funciona da seguinte maneira: conforme as partículas viajam através do
bóson de Higgs, elas adquirem massa, assim como nadadores atravessando uma
piscina ficam molhados. Se não fosse assim, ou seja, sem essa massa, estas
partículas viajariam pelo cosmos à velocidade da luz, incapazes de se unir para
formar átomos.
O que está jogo na descoberta do bóson de Higgs, portanto, é nada mais, nada
menos que todo o Modelo Padrão da Física, a teoria mais bem aceita de que como
surgiu a matéria no universo.
Se o bóson não existir, os cientistas terão que repensar tudo que conhecem do
universo, para explicar de outra forma – talvez com teorias menos aceitas da
física – como a matéria ganha sua massa.
O caminho até aqui
Depois de quase meio século, em dezembro
do ano passado, os cientistas das duas experiências separadas do LHC mencionadas
acima (CMS e ATLAS) informaram que tiveram resultados parecidos, nos quais
encontraram “picos” em seus dados em aproximadamente a mesma massa: 124 a 125
giga elétron-volts (GeV).
Os dados poderiam ser devidos a uma flutuação, mas também poderiam significar
algo. Porém, essa significância estatística não era suficiente para concluir
nada: poderia ser tanto a presença do bóson quanto uma falha.
A descoberta não estava muito acima do nível de certeza “dois sigma”. O nível
“cinco sigma” é necessário para reivindicar uma descoberta, porque significa que
há menos de uma chance em um milhão dos dados serem um acaso estatístico.
Mas, por terem diminuído a gama de energias em que o Higgs poderia ser
detectado – abaixo de 124 GeV -, os cientistas informaram que deveriam ser
capazes de anunciar sua descoberta em no máximo um ano.
“Nós agora temos mais do dobro dos dados que tínhamos no ano passado”, disse
o diretor de Pesquisa e Informática do CERN, Sergio Bertolucci, em um
comunicado. “Isso deve ser suficiente para ver se as tendências que vimos nos
dados de 2011 ainda estão lá, ou se elas foram embora. É um momento muito
emocionante”.
Ao mesmo tempo dessa declaração, o laboratório deixou bastante claro que
ainda não sabe se o bóson de Higgs foi descoberto. Eles pediram para o público
não acreditar nos rumores, insistindo que seus físicos ainda estão estudando os
dados.
“Se e quando uma nova partícula for descoberta, ATLAS e CMS vão precisar de
tempo para verificar se é o muito procurado bóson de Higgs, o ingrediente que
faltava do Modelo Padrão da física de partículas, ou se é uma forma mais exótica
do bóson que poderia abrir a porta para uma nova física”, disse o diretor-geral
do CERN, Rolf Heuer.
As apostas de diversos especialistas, no entanto, é de que, com os novos
dados, os cientistas do LHC anunciem um reforço dos resultados a um nível de
“quatro sigma” – um estágio abaixo do nível necessário para reivindicar uma
descoberta – e isso será, com certeza, um grande passo para não negar que o
bóson existe.
“Nós olhamos os dados deste ano sozinhos, e agora temos que combiná-los
estatisticamente com o que encontramos no ano passado para formar um novo
conjunto de dados. Se o sinal tiver crescido em ambos os experimentos a um nível
de certeza significativo, então, seria um forte indicador [de que a partícula
existe]”, disse Claire Pastor-Themistocleous, chefe da equipe do detector CMS,
no Reino Unido.
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