Alexandre Mendes, de 21 anos, começou a cursar informática biomédica.
Rapaz chegou a perder movimento das pernas e a abandonar estudos.
Em meio à luta contra o câncer, Alexandre conquistou uma vaga em informática biomédica na USP (Foto: Luara Gallacho / G1)
Passar no vestibular é motivo de comemoração em dobro para Alexandre Mendes Castanheira Monteiro, de 21 anos. O jovem de Ribeirão Preto (SP) conseguiu ser aprovado com uma vaga em informática biomédica na USP diante de uma série de provações em razão de um câncer no tronco cerebral - que prejudica as funções motoras do organismo.As marcas dessas vitórias ele ostenta com orgulho. Os cabelos raspados e a abreviação do curso em sua testa foram por causa do ‘trote’ que amigos, parentes e colegas lhe deram em comemoração à sua aprovação na Fuvest para o curso que ele começou nesta segunda-feira (25). Já a cicatriz de 17 centímetros na parte de trás da cabeça, bem mais dolorosa, veio de uma biópsia, um dos vários procedimentos médicos que ele tem combatido desde que descobriu o tumor, em julho de 2010.
A cicatriz foi necessária para que o ribeirão-pretano e sua família confirmassem a suspeita de neoplasia até então manifestada por sintomas como problemas de visão e perdas de movimentos nos membros. Uma piora de estado que começou em 2004 com o que parecia uma simples tontura, enquanto Alexandre jogava tênis, e que se agravou para uma espécie de tetraplegia temporária que, em 1º de dezembro de 2010, no dia de seu aniversário, fez com que ele tivesse que ser carregado pelo pai para prestigiar a festa que seus amigos haviam preparado em sua casa.
“O momento bem crítico foi bem no meu aniversário. Eu tinha feito quimioterapia uma semana antes. Eu não tinha força para levantar copo e minha fala estava abafada, só minha mãe me entendia, eu ficava com raiva, não conseguia comer sozinho”, lembra.
Família que descobriu doença de Alexandre em 2010 hoje comemora sucesso do filho no vestibular (Foto: Rodolfo Tiengo/G1)
Nos meses que antecederam o pior estágio de sua doença, Alexandre, então com 18 anos, se distanciou da rotina de um pré-vestibulando para se dedicar aos tratamentos contra o tumor em sua cabeça. Em razão da crescente dificuldade para andar e da necessidade de usar muletas, ele abandonou o cursinho após dois meses, sem expectativa de voltar a estudar. “Dava para ver a minha piora semanal. Parei o cursinho quando vi que precisava de ajuda”, lembra o adolescente.A ideia de cursar uma universidade só voltaria a parecer possível para Alexandre no começo de 2012, depois que ele superou tratamentos de quimioterapia e de radioterapia, que aos poucos melhoraram sua saúde e lhe devolveram autonomia para coisas básicas como tomar banho e caminhar. Mesmo com limitações e com uma prescrição mensal de corticoides, nesse período ele retomou as aulas do cursinho pré-vestibular, decisão que pouco tempo depois resultou na aprovação na USP de Ribeirão. “As pessoas falam que sou herói, mas não acho que sou tudo isso. Eu soube lidar com a situação. Houve dias que foram péssimos, mas na maioria deles eu conseguia conviver com aquilo.”
Para o pai de Alexandre, o dentista Luiz Antônio Monteiro, de 63 anos, a história de superação é um aprendizado para toda a família. “Ele é um exemplo de garra, de amor à vida. Ele sempre confiou que o milagre poderia acontecer, mas acho que esse milagre já aconteceu, ele está aqui comigo hoje”, disse.
Alexandre começou suas aulas na USP de Ribeirão nesta segunda-feira (25) (Foto: Luara Gallacho / G1)
Ao recordar de tudo que passou, Alexandre se deixa levar pelas lágrimas, mas logo recompõe um semblante menos triste do que otimista, atitude que, segundo sua mãe, tem sido uma constante do jovem no decorrer de sua luta contra o câncer. “Ele nunca se questionou, nunca se revoltou com a situação”, afirma a artista plástica Mara castanheira Monteiro, de 54 anos.Após uma trajetória marcada por diferentes tratamentos, dores, enjoos, falta de ar, entre outros transtornos, Alexandre ainda não está curado do câncer, mas vive dias melhores e de esperança. O ingresso na USP trouxe um novo respiro para a luta pessoal do ribeirão-pretano, que recentemente iniciou um novo tratamento de quimioterapia que deve se estender por pelo menos um ano e meio. “É muito cedo para falar. Agora estou estável, mas curado não. De vez em quando ainda faço ressonância de controle para ver o controle do tumor. (...) Vou continuar fazendo quimioterapia até melhorar”, diz.
Quando indagado sobre o próprio futuro, Alexandre prefere se preocupar com coisas práticas que farão diferença em sua nova rotina universitária. “Outra preocupação é de como andar lá dentro da USP, que é muito grande. Talvez eu precise usar cadeira de rodas na transição dos blocos das salas de aula.”
Alexandre superou câncer e passou no vestibular da Fuvest (Foto: Rodolfo Tiengo/G1)
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