“Eu faço chover”
O engenheiro Takeshi Imai criou um método inovador para descarregar as nuvens sem aditivos químicos
"Em 1990, eu fabricava pulverizadores e motosserras para a produção agrícola.
Um dia, levei 20 equipamentos para teste de potenciais clientes no Espírito
Santo. Durante duas horas, minhas máquinas derrubaram árvores. A queda de um
jacarandá de 250 anos me fez parar. Até hoje não esqueço o barulho daquela
árvore tombando. Foi uma visão impressionante. A partir daí, decidi que minhas
invenções deveriam servir à natureza e não destruí-la. Não queria continuar a
produzir motosserras para desmatar nem jogar veneno para poluir. Soube, então,
de uma técni-ca para fazer chover com uma substância química, o iodeto de prata.
Um avião atravessa as nuvens geladas e bombardeia a solução química nelas, para
fazer com que as gotículas d’água se precipitem. Mas o iodeto de prata é um
metal pesado. Fiquei imaginando uma maneira limpa de fazer isso.
Fabricava pulverizadores havia quase 20 anos. Era um gotólogo, especialista
em gotas. Para precipitar nuvens sem o uso de aditivo, a saída seria usar água,
com gotas de tamanho controlado. Essas gotas servem como estímulo para que as
gotículas da nuvem se precipitem. A água que levamos num avião é capaz de
provocar uma chuva com um volume várias vezes maior.
Aprimorei os
equipamentos até chegar ao formato de gota que faria as nuvens se precipitarem.
Desenvolvi um método para estimular uma nuvem a crescer e induzir sua
precipitação com um pouco de água potável. Com essa tecnologia, detectamos, por
radar, o tipo de nuvem em formação. Quando ela está no ponto bom para ser
estimu-lada, subimos com o avião levando água potável e jogamos as gotas para
que a nuvem se precipite. Chegamos a um processo totalmente limpo, que não gera
nenhum inconveniente ao meio ambiente. Outra vantagem é que conseguimos
trabalhar com diferentes tipos de nuvens.
Registrei as patentes. Mas não
tinha dinheiro para colocar o projeto em prática. A Sabesp, empresa de água de
São Paulo, precisava de mais volume em seus mananciais. Eles concordaram em
investir em pesquisa experimental para ver se a tecnologia funcionaria. Fizemos
quatro contratos experimentais e fomos evoluindo juntos. Em 2004, o Brasil
voltou a sofrer com escassez de chuvas. Com o risco de novo apagão, fechamos
contrato para produzir chuvas sobre as bacias do Alto Tietê e da Cantareira.
Esta última chegou a ter apenas 2% de água em seus reservatórios. Elas são
responsáveis pelo abastecimento de água para 20 milhões de habitantes da região
metropolitana de São Paulo. Há sete anos, ajudamos a abastecê-las.
No ano
passado, fomos convidados pela ONU a apresentar nosso método na convenção sobre
desertificação. Fizemos chuva na Chapada Diamantina, na Bahia, para minimizar os
estragos da seca. Criamos também um método de revegetação, o Árvore Flecha. Ele
é um sistema de plantio em escala de centenas de árvores com flechas de bambu
atiradas do céu. Se temos cabeça para destruir em larga escala, precisamos ter
também para recuperar em larga escala."
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