Como parar o avanço da doença de Alzheimer
Por Bruno Calzavara em 19.08.2013 as 17:00
Uma nova pesquisa recém-publicada na revista “Science Translational Medicine” abre a porta para o desenvolvimento de tratamentos que possam interromper a doença de Alzheimer antes mesmo do aparecimento de seus primeiros sintomas; isto é, anterior a qualquer dano ao cérebro.
Na verdade, da mesma forma que Alzheimer é uma doença devastadora, também é extremamente lenta, já que frequentemente leva mais de 10 anos para que os primeiros sintomas apareçam. E este período pré-clínico (ou seja, pré-sintomas) é o momento ideal para intervir.
Um estudo do Instituto Hertie para Pesquisa Clínica de Cérebro, em Tübingen, Alemanha, e do Hospital de Santo Antônio-CHP, em Porto, Portugal pode ser o primeiro passo para isso. Os pesquisadores Stephan Kaeser e Luís Maia descobriram que as mudanças que ocorrem no líquido cefalorraquidiano (o líquido em torno da coluna vertebral e do cérebro, também conhecido como LCR) de dois modelos animais da progressão da doença de Alzheimer podem ser utilizadas para monitorizar a doença, sem recorrer aos sintomas.
Notavelmente, estes biomarcadores (as mudanças biológicas que são um sinal da doença) já foram observados em pacientes com a condição, mas a ligação direta com a doença não podia ser provada, uma vez que o cérebro (e sua destruição) só podem ser observados após a morte do paciente.
O novo estudo apresenta dois modelos animais que podem ser fundamentais para compreender a doença e o efeito de diferentes tratamentos nos pacientes, em particular durante o período pré-clínico. O trabalho também dá apoio a uma recente hipótese de que estes marcadores podem ser usados para prever o desenvolvimento da doença em pacientes pré-clínicos, o que seria uma grande notícia para a medicina.
A doença de Alzheimer é um desastre para a saúde pública prestes a acontecer: 36 milhões de pessoas foram afetadas em 2010. Os especialistas preveem que esses números devem dobrar já em 2020 – e ainda não há nenhuma forma de tratamento em vista no horizonte. A doença, que normalmente vem com a velhice, destrói irreversivelmente o cérebro, causando perda de memória, de linguagem e até mesmo da percepção de tempo e espaço nos pacientes.
Muitas vezes, a pessoa termina na total dependência de outros, com consequências sociais, emocionais e econômicas devastadoras para as famílias e a sociedade. Apenas em 2010, a Organização Mundial da Saúde calcula que 640 bilhões de dólares (mais de R$ 1,5 bi) foram gastos para cuidar de pacientes com a doença de Alzheimer. Com a população mundial vivendo mais e aumentando as estatísticas da condição, se faz urgente encontrar algum tipo de cura ou tratamento, o que não tem sido fácil.
Por isso, o fato de a observação recente dos biomarcadores – o peptídeo beta-amilóide (Ab) e a proteína Tau – no líquido cefalorraquidiano de pacientes poder informar sobre a progressão da doença foi particularmente interessante. Agora, levanta-se a possibilidade de, finalmente, os cientistas serem capaz de intervir durante o período pré-clínico da doença.
Na verdade, mesmo se não sabemos por que ou de que forma como o cérebro é destruído durante a doença, ela tem três características claras: a morte das células cerebrais e dois emaranhados insolúveis que se formam no cérebro, à medida que a doença se desenvolve, formado pelos peptídeos de beta-amilóide (Ab), chamados de placas Ab, e pela proteína Tau, chamados de emaranhados neurofibrilares.
Recentemente, os cientistas descobriram que os pacientes com Alzheimer apresentam menos peptídeo Ab e mais tau no líquido cefalorraquidiano do que indivíduos normais, e logo se suspeitou que esse fato tinha algo a ver com a progressão da doença. Porque este líquido está em contato direto com o exterior do cérebro, ele reflete as mudanças bioquímicas que ocorrem no órgão.
Desta forma, enquanto as placas de Ab crescem em tamanho e número, cai a quantidade de péptido Ab solúvel no LCR. Por outro lado, acredita-se que os níveis totais de proteína Tau no líquido refletem a existência dos emaranhados neurofibrilares e indicam a destruição de células nervosas (lesões cerebrais). Em outras palavras, o aumento nos níveis da proteína no LCR indica também uma ampliação dos emaranhados. No entanto, estas eram suposições indiretas baseadas somente nos sintomas e não nas observações cerebrais.
O próximo passo, portanto, era encontrar um modelo animal que reproduzisse essas características para que os cientistas pudessem testar as possibilidades. Eles recorreram aos camundongos transgênicos usualmente utilizados para o estudo do desenvolvimento da doença. Estes ratos possuem mutações humanas que provocam a superprodução do peptídeo Ab e o desenvolvimento das placas Ab (porém, sem os emaranhados neurofibrilares de Tau) e não apresentam sintomas da doença.
Usando um novo método de detecção, mais sensível, os pesquisadores Kaeser e Maia decidiram investigar o LCR de dois desses animais transgênicos para tentar encontrar os biomarcadores e descobrir a sua relação com as placas Ab. Para a surpresa da dupla, foi revelado que não só os níveis do peptídeo Ab haviam caído à medida que as placas eram formadas, mas esta redução foi acompanhada por um aumento concomitante nos níveis da proteína Tau no líquido cefalorraquidiano. Isso é muito notável, uma vez que os ratos não desenvolvem emaranhados neurofibrilares nem apresentam grande perda de neurônios.
Estes resultados desafiam a suposição de que o aumento da proteína Tau no LCR observado em humanos está ligado aos emaranhados neurofibrilares e à perda de neurônios e vai precisar de uma investigação mais aprofundada. Entretanto, os cientistas consideram mais importante o fato de que os resultados encontrados demonstram claramente que as placas Ab crescem, a concentração do péptido Ab no LCR diminui, enquanto os níveis da proteína Tau aumentam – e isto ocorre numa escala de tempo muito semelhante à que é observada nos seres humanos.
Embora os resultados de Kaeser e Maia ainda precisem de mais pesquisa, eles sugerem que estes ratos transgênicos podem ser usados para testar novos medicamentos para a condição usando análise de LCR para monitorar a doença (ou os efeitos potenciais tratamentos). Isso significa que os resultados podem ser transferidos para pacientes pré-clínicos. [Medical Xpress]
FONTE
Notavelmente, estes biomarcadores (as mudanças biológicas que são um sinal da doença) já foram observados em pacientes com a condição, mas a ligação direta com a doença não podia ser provada, uma vez que o cérebro (e sua destruição) só podem ser observados após a morte do paciente.
O novo estudo apresenta dois modelos animais que podem ser fundamentais para compreender a doença e o efeito de diferentes tratamentos nos pacientes, em particular durante o período pré-clínico. O trabalho também dá apoio a uma recente hipótese de que estes marcadores podem ser usados para prever o desenvolvimento da doença em pacientes pré-clínicos, o que seria uma grande notícia para a medicina.
A doença de Alzheimer é um desastre para a saúde pública prestes a acontecer: 36 milhões de pessoas foram afetadas em 2010. Os especialistas preveem que esses números devem dobrar já em 2020 – e ainda não há nenhuma forma de tratamento em vista no horizonte. A doença, que normalmente vem com a velhice, destrói irreversivelmente o cérebro, causando perda de memória, de linguagem e até mesmo da percepção de tempo e espaço nos pacientes.
Muitas vezes, a pessoa termina na total dependência de outros, com consequências sociais, emocionais e econômicas devastadoras para as famílias e a sociedade. Apenas em 2010, a Organização Mundial da Saúde calcula que 640 bilhões de dólares (mais de R$ 1,5 bi) foram gastos para cuidar de pacientes com a doença de Alzheimer. Com a população mundial vivendo mais e aumentando as estatísticas da condição, se faz urgente encontrar algum tipo de cura ou tratamento, o que não tem sido fácil.
Por isso, o fato de a observação recente dos biomarcadores – o peptídeo beta-amilóide (Ab) e a proteína Tau – no líquido cefalorraquidiano de pacientes poder informar sobre a progressão da doença foi particularmente interessante. Agora, levanta-se a possibilidade de, finalmente, os cientistas serem capaz de intervir durante o período pré-clínico da doença.
Na verdade, mesmo se não sabemos por que ou de que forma como o cérebro é destruído durante a doença, ela tem três características claras: a morte das células cerebrais e dois emaranhados insolúveis que se formam no cérebro, à medida que a doença se desenvolve, formado pelos peptídeos de beta-amilóide (Ab), chamados de placas Ab, e pela proteína Tau, chamados de emaranhados neurofibrilares.
Recentemente, os cientistas descobriram que os pacientes com Alzheimer apresentam menos peptídeo Ab e mais tau no líquido cefalorraquidiano do que indivíduos normais, e logo se suspeitou que esse fato tinha algo a ver com a progressão da doença. Porque este líquido está em contato direto com o exterior do cérebro, ele reflete as mudanças bioquímicas que ocorrem no órgão.
Desta forma, enquanto as placas de Ab crescem em tamanho e número, cai a quantidade de péptido Ab solúvel no LCR. Por outro lado, acredita-se que os níveis totais de proteína Tau no líquido refletem a existência dos emaranhados neurofibrilares e indicam a destruição de células nervosas (lesões cerebrais). Em outras palavras, o aumento nos níveis da proteína no LCR indica também uma ampliação dos emaranhados. No entanto, estas eram suposições indiretas baseadas somente nos sintomas e não nas observações cerebrais.
O próximo passo, portanto, era encontrar um modelo animal que reproduzisse essas características para que os cientistas pudessem testar as possibilidades. Eles recorreram aos camundongos transgênicos usualmente utilizados para o estudo do desenvolvimento da doença. Estes ratos possuem mutações humanas que provocam a superprodução do peptídeo Ab e o desenvolvimento das placas Ab (porém, sem os emaranhados neurofibrilares de Tau) e não apresentam sintomas da doença.
Usando um novo método de detecção, mais sensível, os pesquisadores Kaeser e Maia decidiram investigar o LCR de dois desses animais transgênicos para tentar encontrar os biomarcadores e descobrir a sua relação com as placas Ab. Para a surpresa da dupla, foi revelado que não só os níveis do peptídeo Ab haviam caído à medida que as placas eram formadas, mas esta redução foi acompanhada por um aumento concomitante nos níveis da proteína Tau no líquido cefalorraquidiano. Isso é muito notável, uma vez que os ratos não desenvolvem emaranhados neurofibrilares nem apresentam grande perda de neurônios.
Estes resultados desafiam a suposição de que o aumento da proteína Tau no LCR observado em humanos está ligado aos emaranhados neurofibrilares e à perda de neurônios e vai precisar de uma investigação mais aprofundada. Entretanto, os cientistas consideram mais importante o fato de que os resultados encontrados demonstram claramente que as placas Ab crescem, a concentração do péptido Ab no LCR diminui, enquanto os níveis da proteína Tau aumentam – e isto ocorre numa escala de tempo muito semelhante à que é observada nos seres humanos.
Embora os resultados de Kaeser e Maia ainda precisem de mais pesquisa, eles sugerem que estes ratos transgênicos podem ser usados para testar novos medicamentos para a condição usando análise de LCR para monitorar a doença (ou os efeitos potenciais tratamentos). Isso significa que os resultados podem ser transferidos para pacientes pré-clínicos. [Medical Xpress]
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